sábado, 31 de dezembro de 2011

Clarice Lispector - Signo e inspiração


Seja sobre Filosofia ou Espiritualidade, aprendi que o ideal é penetrar no signo e deixar-se inspirar pelo sentido ali guardado. Faço pois minhas, as palavras de Clarice Lispector:

"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento".

Feliz Ano novo! Feliz 2012!


quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Clarice Lispector e Cecília Meireles - liberdade e consumo


Duas grandes escritoras brasileiras falaram sobre liberdade de forma emocionante, caracterizando a essência do signo:


Liberdade - essa palavra,
que o sonho humano alimenta:
que não há ninguém que explique,
e ninguém que não entenda!
(texto extraído do livro "Romanceiro da Inconfidência", de Cecília Meireles, Editora Letras e Artes - Rio de Janeiro, 1965, pág. 70,) 


Mas ...entendi o que significa consumo  -  como drama social   -  lendo as palavras de Clarice Lispector sobre liberdade:  

"Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome. "

segunda-feira, 25 de julho de 2011

A arte da liderança - O mito de uma nova heterogênese do humano

Cada pessoa, cada grupo, cada Comunidade emerge através do relacionamento social, num processo de aprendizado recursivo, que na convivência lança pontes sobre diferenças, possibilitando a cada um recolher talentos, potencialidades, forças desta convivência coletiva. O grupo alimenta o ser de cada um, fornece as chaves para se entrar e reentrar na vida, sempre apontando para as novas possibilidades de aprender.
A arte da liderança remete antes de tudo e ao mesmo tempo a aprender a viver junto, a aprender a interagir, a ser como queremos que os outros sejam, a nos relacionarmos como queremos que se relacionem conosco. A arte da liderança exige que não sejamos fantoches uns dos outros, pois se agirmos e reagirmos em função de como nos tratam, onde fica a nossa autonomia? Devemos ser assertivos, gentis e firmes quando nos relacionarmos uns com os outros, sempre visando o bem comum, na construção deste espírito de grupo, que fornece as forças para vencer os desafios.
Tudo isto nos traz a percepção do que somos capazes como mulheres ou homens, atuando em grupo e do que será importante fazer para desenvolver esta visão de equipe, de grupo.  O espírito da liderança é tecido com este fio, que brota das mãos de cada um e pode aprisionar num estilo autocrático ou pode libertar e transformar pessoa e caminhos se for uma liderança democrática participativa. 
Não existem escolas, nem caminhos prontos, este espírito coletivo que alimenta cada um, nasce da decisão de se tornar um indivíduo e possui ligações e interconexões que partem de nós mesmos e lançam fios com o todo.
Política, espiritualidade, vida social e trabalho são rizomas distintos que se enlaçam e não há uma cepa predadora, quando a destruição existe é porque o ser humano teceu uma visão individualista da vida e do outro.  Na presença de uma visão egoísta, o grupo pode gerar um espírito frágil que não sustenta nem alimenta. Mas a teia coletiva está apta a gerar um espírito fortalecido.
Imbricado a estes rizomas, o ser humano prepara-se constantemente para a gênese de si mesmo, nascendo a cada dia,   descobrindo-se nas lições do “você existe em relação”, “nada existe em separado”, “qualquer coisa existe sempre em conjunto”. Não se pode separar o indivíduo da experiência deste inter-relacionamento, pois o ponto de vista individual surge da experiência de grupo e se quisermos mudanças no espírito coletivo do grupo, teremos que apreender delicadamente os outros pontos de vista,  que se criam no processo participativo do grupo. A arte liderança significa o desenvolvimento de uma visão fundada num novo individualismo,  onde o individual é percebido como centro de forças  da vida coletiva.  
Precisamos de novas crenças, novos valores, um novo espírito, que leve a perceber que esta força encontra-se latente no grupo e que é ela que pode levar em direção a esta nova fronteira. A vida em grupo é a gênese das capacidades do ser humano, parteja nossas verdadeiras pessoas, liberta as aspirações mais profundas e deflagra a energia necessária para preencher a vida e multiplicá-la.
Estas forças do grupo criam o indivíduo e a sociedade ao mesmo tempo. Dentro deste contexto o indivíduo se forma, aprende a enfrentar contratempos, adquire a capacidade de recuperação, ultrapassa as adversidades e aprende com elas. Nesta aventura o indivíduo busca o pote de ouro que está no final do arco-íris, numa busca incessante. Em verdade está buscando a si mesmo, pois a cada interação apura o seu ser.
O indivíduo deveria se fazer sempre as seguintes perguntas: O que mudou em mim na convivência com estas pessoas? O que aprendi com elas? O que elas aprenderam comigo? Mudaram na convivência comigo? Estas são perguntas que deveríamos nos fazer sempre. Qual a contribuição mútua nos grupos aos quais pertencemos?
O domínio sobre si e sobre as situações é uma decisão  que implica na responsabilidade de escolher um caminho, no entusiasmo de redefinir horizontes e desafios e no encantamento de descobrir as novas possibilidades  que se escondem nesta incrível aventura social do ser humano no Planeta Terra. 
O mito da criação do ser humano denota em suas entrelinhas  que se precisa do outro para dar vida a essa aventura, que depende  de dois ou mais indivíduos e que necessita do espírito comum, o espírito do grupo, para que as idéias não se dispersem em direções diferentes, mas se transformem em força criativa e construtiva.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Mente ou espírito e cérebro - Uma paráfrase a Edgard Morin

O que é o espírito ou mente?  Como se relaciona com o cérebro? Somos um conjunto de neurônios, processos elétricos e idéias e este conjunto nos permite pensar, conhecer, aprender, entender, abstrair.

O cérebro cria a mente e a mente concebe o cérebro e juntos, sem se conhecerem, concebem a cultura, a moral e a ética.

A neurociência estuda o cérebro; a psicologia estuda a mente. A filosofia estuda a ética. Os conhecimentos estão separados.  No entanto há unidade no cérebro humano.

Estamos numa aventura desconhecida; uma aventura cósmica. Estamos em um jogo e precisamos juntos coordenar os próximos lances, para que possamos fazer valer nosso papel no jogo. Quem está na direção do carro, o cérebro (enzimas, feixes elétricos) ou a mente (espírito)? Ou os dois atuam juntos, mesmo sem se conhecerem?

Para dar unicidade aos nossos lances,  precisamos de uma ética que não seja individualista, insular, mas que reconheça o outro e suas necessidades. Precisamos nós mesmos de nos reconhecer em nossas lacunas espirituais.

Somos matéria (poeira de estrelas) e espírito e toda esta grandeza é desconhecida para cada um de nós e de pouco vale esmiuçar o cérebro à procura do espírito, pois tal como a galinha dos ovos de ouro, precisamos da matéria viva e em interação fenomenológica para ter acesso a mais alta espiritualidade em nós  mesmos e a nossa volta .

Ao lado das ciências que vem buscando aprofundar o conhecimento do cérebro e o conhecimento da mente ou espírito, é urgente pelo senso comum, criarmos um espaço neutro interior para poderemos coexistir mutuamente com toda esta complexidade. Através de nossas idéias e práticas, iremos, progressivamente  refazer o caminho já trilhado e  seguir adiante,  num percurso onde as novas oportunidades chegam como resultado do que plantamos ou se manifestam como decorrência do misterioso re-trabalho espiritual.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Uma conversa imaginária entre Edgar Morin, André Gide, Teilhard Chardin, Thomas Bearden e Antonio Machado

A paráfrase  em uma conversa imaginária:


Morin: Sabe..... a ética e a política devem enfrentar a complexidade do mundo entregue a um caos do qual não se sabe se é de agonia  ou de gênese.


Gide: Ora, para enfrentar esta complexidade, há quem gostaria  de melhorar os homens e quem estime que isso poderia  acontecer melhorando antes as condições de vida.  Mas, como uma coisa não anda sem a outra, não se sabe por onde começar.


Chardin: Olha, para ser sincero, o sucesso ou o fracasso derradeiro da humanidade dependem mais das nossas capacidades reflexivas e afetivas do que das nossas reservas econômicas.


Bearden: Vocês não percebem? A agonia final do nascimento do homem  - ou da sua morte - já começou.


A. Machado:  Minha  resposta é minha poesia:


Quando el jilguero no puede cantar
Quando el hombre es peregrino
Quando de nada nos sirve rezar
Caminante, no hay camino
El camino se hace al andar.


domingo, 3 de julho de 2011

A incerteza ética - Edgar Morin

A ecologia da ação indica-nos que toda ação escapa, cada vez mais, à vontade de seu autor, na medida que entra no jogo das inter-retro-ações do meio onde intervém.               

(....) O Fausto de Goethe ilustra o mau resultado de uma boa intenção, e a feliz consequência de uma má intenção.Fausto deseja a felicidade de Margarida, mas tudo o que faz produz infelicidade. Mefisto trabalha pela perdição de Margarida, mas desencadeia a intervenção divina, que a salva.

Daí este primeiro princípio: os efeitos da ação dependem não apenas das intenções do autor, mas também das condições próprias ao meio onde acontece.
Ao considerar o contexto do ato, a ecologia da ação introduz a incerteza e a contradição na ética.

(...) Esse vínculo entre incerteza e ética aparece quando se toma em consideração o ato moral, não isoladamente, mas na sua inserção e nas suas consequências no mundo.


(...) Necessitamos de um conhecimento capaz de levar em consideração as condições da ação e a própria ação, ou seja um conhecimento capaz de contextualizar antes e durante a ação. 


Nada é melhor do que a boa vontade.  Mas ela não basta e pode enganar-se. Um pensamento incorreto, mutilado, mutilador, mesmo com as melhores intenções, pode conduzir a consequências desastrosas. (...) A consideração de toda essa complexidade, a partir dos efeitos perversos ou inesperados do ato, exige trabalhar pelo pensar bem, conforme a expressão de Pascal, ou seja, pensar de maneira complexa.

(Edgar Morin - O Método 6 - Ética)

sábado, 25 de junho de 2011

Fernando Pessoa - Alague o seu coração de esperanças

Segue o teu destino...
Rega as tuas plantas; 
Ama as tuas rosas. 
O resto é a sombra 
de árvores alheias

Fernando Pessoa

sábado, 11 de junho de 2011

Café Filosófico com Paulo Freire

Não há saber mais ou saber menos: Há saberes diferentes.


Esta frase de Paulo Freire fornece a profunda dimensão do conhecimento e do papel do outro na nossa vida e em sociedade. As nossas convicções não podem nos levar por caminhos que nos levem a não reconhecer o outro. Pelo contrário, reconhecendo-o em suas idéias, podemos crescer, aprender e se formos amorosos poderemos impedir que erros sejam cometidos. É apreciando o saber do outro que podemos ser justos e verdadeiros e encontrarmos as soluções que confrontam o nosso tempo.


As terríveis conseqüências do pensamento negativo são percebidas muito tarde (Paulo Freire).


A recomendação é caminhar com cuidado, percebendo o que está a volta. A palavra de ordem é "devemos perceber o pensamento negativo em nós mesmo e no outro". Esta arte está  disponível dentro de cada um de nós. Mas para isso temos que observar, nos incomodarmos com o outro, percebê-lo, perceber a nós mesmos e isso exige reflexão. É urgente perceber o pensamento em si mesmo e no semblante da pessoa, pois o que você responderá diante da esfinge que pergunta: Que consequências podem advir deste pensamento negativo? 
E não importa se é seu ou do outro. Esteja atento! Disto depende a vida.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Palavras de uma Lagarta. Ou é de Alice?

"Metáfora" proposta: Cada um passa pelas transformações do seu jeito. Não há erro, uns são Lagarta, outros Alice, mas todos estão crescendo e se transformando e têm percepções distintas do processo pessoal e alheio.

A Lagarta e Alice olharam-se por algum tempo. Quem é você? , disse a Lagarta.
"Acho que infelizmente não posso me explicar, minha senhora, disse Alice, "porque já não sou eu, entende"? "Ter muitos tamanhos num mesmo dia, é muito confuso".  
"Não é" , disse a Lagarta.
"Bem, talvez ainda não pense assim.", "Mas quando se transformar numa crisálida (...) talvez seus sentimentos sejam diferentes", disse Alice. "O que eu sei é que eu iria me sentir esquisita".
"Nem um pouco", disse a Lagarta. 
"Você!" , disse a Lagarta com desdém.  "Quem é você?"
 O que as levou de volta ao começo da conversa. 

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O que é a vida racional?

O que é uma vida racional?

Segundo Edgar Morin não existem critérios racionais  que ajudem a definir quando uma uma vida é racional. Ele pergunta: Nunca ultrapassar a dosagem prescrita é racional? Morin traça a diferença entre racionalidade e racionalização. Segundo o autor, racionalização se autoconfirma em seus textos sagrados, é fechada, dogmática, não aceita mudanças, nem críticas. Já a racionalidade é aberta, e aceita que suas próprias teorias sejam biodegráveis, que possam eventualmente ser superadas por argumentos ou aperfeiçoamentos que as contradigam (Edgar Morin - Amor, Poesia, sabedoria, Editora Bertrand Russel, página 54). 


Vamos ser racionais, a partir da racionalidade (uma das propriedades da mente pensante) e não a partir da racionalização, que se dá a partir do que é aprendido na cultura, com tudo o que nos foi "ensinado'.  Temos que ser racionais, inventar a razão, indo além do processo cultural, para que possamos avaliar corretamente alternativas e chegarmos a soluções e decisões inéditas.


Castoriadis disse: o homem é esse animal louco que inventou a razão. 



segunda-feira, 16 de maio de 2011

A condição humana - Hannah Arendt - Vamos debater o conceito?


 Livro: “A Condição Humana” (Hannah Arendt)


Hannah Arendt, pensadora política e filósofa, Conhecida como uma pensadora da liberdade, nasceu na Alemanha em 1906 e faleceu em 1975.

No livro "A Condição humana"  Hannah Arendt discute a importância do espaço público para o exercício da liberdade humana.  

“Embora todos comecem a vida inserindo-se no mundo humano através do discurso e da ação, ninguém é autor ou criador da história de sua própria vida. Em outras palavras, as histórias, resultado da ação e do discurso, revelam um agente, mas esse agente não é autor nem produtor. Alguém a iniciou e dela é o sujeito, na dupla acepção da palavra, mas ninguém é seu autor.”

O que nos convida à reflexão também é que em tempo de Liberalismo, de Direitos Individuais desconectados do bem comum geral, tempos de atomização, o espaço público, onde se forma a opinião pública, se fragiliza porque cada um corre atrás de seus próprios interesses, em detrimento de questões universais.

Caso queira debater, estou aqui esperando a sua postagem....

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Normose: uma doença no campo ético

A NORMOSE é aquele comportamento que leva a uma percepção de que “se todo mundo faz, eu também vou fazer”. Todo mundo leva caneta e lápis para casa, eu também vou levar; todo mundo cobra propina eu também vou cobrar, todo mundo desvia material, eu também vou desviar. A normose é uma doença, então.... sejamos a diferença a partir de nossas práticas. É a falta de princípios éticos que norteiem as práticas, que faz surgir a normose, que é uma patologia que pode infectar a cultura, seja nas organizações, seja em sociedade.


"Necessitamos de um mutirão em prol da educação da alma, que nos possa desvelar uma ética natural, derivada da consciência desperta de onde emana a vivência amorosa e solidária. mais do que nunca necessitamos de um desespero sóbrio e de uma revolta lúcida para transcender o fatídico cenário normótico, rumo aos horizontes da excelência e do florescimento humano" (Crema:2001:12).(Cavalcante et al. Liderança e motivação. 2ª. Edição. Fgv.2008:19)

Mas afinal o que é a Ética? Ética é um conjunto de princípios que nos é ensinado e pelos quais aprendemos a pautar a nossa vida. Nem sempre todos agem com base nos princípios que aprenderam, pois a ética é teórica. Já a moral representa-se nas ações que praticamos. A moral é prática e a Ética é conceitual. Assim ficar com um objeto que não nos pertence é imoral porque é uma prática errada e é antiético porque fere os princípios que aprendemos. Pode-se ver que Ética e Moral são os lados opostos de uma mesma moeda.

A cultura organizacional em cada empresa precisa de gestores/ líderes para construir de forma conjunta relações saudáveis e éticas entre todos os parceiros (stakeholders), pois é na relação que se confirma o alcance da missão da empresa por funcionários, fornecedores, clientes, comunidade no entorno, etc. São muitos atores relacionando-se e é por este motivo que as práticas devem sempre ser acompanhadas / revistas, pois a ética é transformadora de mentes e é a partir das transformações que ocorrem no campo ético, que é relacional, que se fazem as grandes transformações na mente, levando às mudanças no mundo, nas empresas, nas instituições.

No escravismo os princípios éticos adotados levavam as pessoas a agirem de forma a verem outro ser humano como mercadoria. Mas os tempos mudaram e os princípios éticos se transformaram levando a uma grande transformação no campo da moral.

A vida é muito complexa, no entanto devemos nos esforçar para pautar nossas práticas a partir de princípios éticos. Em sociedade ou na empresa é o ser humano quem vai incorporar valor ético em tudo o que faz, e como o campo ético é relacional, podemos sim fazer a diferença.

 Estas relações entre Ética (princípios) e Moral (práticas) a partir da adoção dos valores propostos e uma constante revisão de práticas e pincípios envolvendo a todos é que se chama de Responsabilidade Social.

Assim é importante que as empresas, as instituições, os grupos, a família, a comunidade, o país, os indivíduos, estejam sempre fazendo uma revisão em suas práticas, a partir da reflexão sobre os princípios éticos, para que tudo se resulte em um agir renovado com base em princípios éticos incorporados às práticas (um novo ethos), e progressivamente se construa, de forma conjunta, uma sociedade ética. Só assim a doença normose pode ser mantida sob controle.

terça-feira, 29 de março de 2011

Qual o valor da verdade?

Nietzche dizia que fatos não existem, existem interpretações. Esta é uma definição muito interesante para elucidar o conceito de verdade.

Uma pessoa cética não acredita em nada, já uma pessoa dogmática acredita que suas idéias são as únicas corretas e que não precisa aprender mais nada, porque o que sabe lhe basta. Acredita que sabe tudo.



Podemos ver aí um conceito aplicado à verdade: aquele que acha que não precisa mais aprender, que não precisa ler ou ouvir mais ninguém porque ninguém tem nada a lhe ensinar, tem a certeza de que suas verdades são absolutas e únicas. Estas pessoas se acham certas em suas análises, porque apreendem a verdade de uma forma muito particular, que não aceita mais entrar no campo relacional.


O verbo apreender é muito interessante porque tem um sentido de perceber, de entender, de abarcar o que existe, e traz de certo modo o sentido de interpretar com o que se sabe.


Veja: uma sociedade possui suas leis e sua moral, no entanto quando se fala em dogmatismo e verdades não se põe em questionamento que quem pensa que estuprar é correto, tem a sua verdade. Não se trata disso em absoluto.

A questão é que verdades surgem quando vamos interpretar os fatos da vida cotidiana. Então alguém vai dizer: furtou um pão tem que enfrentar a cadeia. Outro vai dizer: O que leva uma pessoa a fazer isso: fome, filhos, desespero? Veja são interpretações diferentes do mesmo fato, que nos leva a afirmar que estas pessoas têm mentalidades diferentes, formas de apreender o contexto de formas diversas e portanto suas verdades são distintas.


O valor da verdade é que a partir de nossas interpretações sobre os fatos, a forma como pensamos se incorpora em nossas estruturas sociais e individuais, transformando vidas. A verdade tem valor e o seu rflexo nós sentimos na política, na educação, na economia, no dia a dia.


Outra questão importante é que estas pessoas que acreditam que o que pensam é a verdade absoluta, que não aceitam debater, não aceitam críticas às suas idéias, aos seus conceitos, porque acham que estão certas e que não vão mudar, e que ninguém pode lhes ensinar mais nada, elas estão em erro. Elas podem mudar, podem aprender coisas novas e sucessivamente evoluir. O erro é uma caracteristica da mente.
 Não se deve confundir o erro com a mentira, pois quando uma pessoa que é Flamengo e diz que é Vasco porque está em meio à torcida vascaína, ela está mentindo, porque o que tem na mente dela é diferente do que fala. Marculino Camargo em seu livro Filosofia do conhecimento diz que  erro é uma questão de lógica  e mentira é uma questão moral.


É muito importante que nos grupos existam pessoas que pensem diferente, pois as soluções ficam mais ricas  e as pessoas têm a grande possibilidade de aprenderem umas com as outras, numa circularidade que tem um efeito exponencial para a mente. Lidar com o erro de forma a extrair soluções criativas é uma habilidade gerencial, pois mesmo o dogmático que acredita que sua visão é a única que pode resolver problemas, se fizer parte de um grupo, pode contribuir com suas idéias. A gestão humana de recursos leva todos a participarem e leva a um mundo mais democrático, porque considera a diversidade de idéias um farol importante para uma ética de responsabilidade.
Fico com fernando Pessoa em seu poema sobre a verdade:
A verdade, se ela existe...
Ver-se-á que só consiste
Na procura da verdade,
Porque a vida é só metade!

sexta-feira, 25 de março de 2011

Alain Touraine – O fim do social e a sociedade cultural

Touraine  tece um conceito de modernidade para compreender as necessidades do mundo de hoje. Ele afirma que o novo paradigma não se pode mais valer do tripé político, econômico e social, da Revolução industrial, mas depende de novos valores e novos conflitos com o pensamento social ocupando-se de realidades culturais. Touraine afirma que a perda da centralidade das categorias sociais é radicalmente nova, num efeito fascinante e inquietante ao mesmo tempo, com o pensamento social organizando-se ao redor dos problemas culturais.

Segundo Alain Touraine não se encontra mais sentido nas instituições políticas e sociais e que este novo paradigma cultural é o único capaz de promover uma outra concepção de vida política, um novo individualismo.


Touraine esclarece que o novo modelo pós-social dos direitos culturais se contrapõe às produções da cultura de massa e à lógica geral do lucro e provoca a inserção das minorias que se sentem traídas pela imagem que delas é apresentada.


Hoje todos tem um papel representativo na construção conjunta de uma nova sociedade e nesta tecitura, cada um por sua vez pode contribuir com suas influências, e vem parecendo que este fenômeno possui características transformadoras e libertadoras, mostrando traços do que Touraine chama de uma nova sociedade cultural.


A nova sociedade cultural é um fenômeno global, que surge localizado, a partir do deslocamento do eixo para um novo paradigma cultural, a partir do qual homens e mulheres constroem conhecimento no qual a matéria prima para gerar riquezas, é o indivíduo, o local, a vizinhança, as relações próximas.

Alijadas há tempos de uma história coletiva, resta às pessoas, aos grupos e comunidades voltarem-se sobre si mesmas e buscarem encontrar suas próprias soluções, re-inventarem vidas, protagonizarem histórias, dando um novo sentido às experiências, compartilhando práticas, fazendo surgir neste mergulho para dentro de si mesmos novas narrativas, novos conteúdos, novas políticas comunitárias.

O conceito de democracia liga-se profundamente ao conceito de comunidade, um Espaço Público localizado para a formação de um espírito coletivo cultural, local e depois nacional. É neste sentido que podemos afirmar que inguém pode nos dar a democracia, devemos aprender a democracia, na relação, na interação, na proximidade, no grupo. Ser democrata é aprender como viver com outros seres humanos. É o conceito de grupo com o significado de associação sob a lei da interpenetração, para uma democracia participativa.


TOURAINE, Alain. Um novo Paradigma: Para compreender o mundo de hoje. Rio de Janeiro:  Editora Vozes, 2007. 249 p.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Boaventura de Souza Santos - A consciência e a Mente mais ampla

A Mecânica Quântica coloca a consciência no ato do conhecimento, significando com isso que nós conhecemos na medida do que sabemos, portanto todo conhecimento é finito, porque só vai até onde a nossa consciênncia permite que enxerguemos.

Nietzsche advertia que nossas lentes são fornecidas pela cultura e nossos sentidos nos envolvem na mentira. Ele dizia que somos aranhas em uma teia que só apanha o que se deixa apanhar, ou seja, os sentidos captam o que a cultura ensina a apanhar.


O Professor Boaventura Santos conceitua a consciência para além do paradigma da Mecânica Quântica, em um conceito a partir do qual a conciência não está no homem ou na mulher, mas se estende a todo o universo. Isso significa que há uma orquestração entre sujeito, ato de conhecimento e objeto, ou seja no ato do conhecimento vemos de acordo com o que sabemos e o objeto se mostra na medida de nosso conhecimento.

Há uma dimensão psíquica na natureza, uma mente mais ampla e Boaventura Santos cita Bateson, que diz que a mente é apenas uma parte da Mente mais ampla, ou seja a mente humana é imanente (1) ao sistema social global e à ecologia planetária que alguns chamam de "Deus".


(1) A mente humana é  influenciada pelo sistema social global e por uma ecologia planetária. Parafraseando Nietzche: somos aranhas em uma teia que só apanha o que se deixa apanhar, ou seja, os sentidos captam o que a Mente "mais ampla" ensina a apanhar.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Gestão como doença social - Vincent de Gaulejac

Vincent de Gaulejac é Sociólogo e nasceu em 1946 na França, na cidade de Croissy-sur-Seine. É professor de sociologia na Universidade de Paris 7.



Segundo Vincent de Gaulejac, a gestão não é em si mesma uma patologia. A metáfora da doença é um artifício para  descrever diferentes sintomas que decorrem diretamente do modo pelo qual a gestão apresenta problemas e soluções que ela preconiza para os resolver. Visto por este ângulo, o gestor precisa mudar seus métodos e técnicas para alinhar-se a uma gestão democrática, ou seja uma gestão humana dos recursos.

Ele preconiza que se deve reinscrever a gestão em uma preocupação antropológica, uma gestão humana dos recursos, mais que uma gestão dos recursos humanos. Gaulejac afirma que a crise que nos confronta não é uma crise econômica, pois as sociedades geram riquezas, o que há é que a economia não é concebida para se colocar à serviço do bem comum.
 
Ele aborda de forma clara o antagonismo entre capital e trabalho e suas formas de gestão, e cita Cornelius Castoriadis que fala de duas significações imaginárias sociais opostas, que animam o Ocidente moderno: "O projeto de autonomia individual e coletiva, ou seja a luta pela emancipação do ser humano, tanto intelectual quanto espiritual, e o projeto capitalista demencial, de expansão ilimitada, que deixou de se referir apenas às forças produtivas da economia, para se tornar um projeto global, de um domínio social, biológico, psíquico e cultural.
 
É fato, segundo Gaulejac, que uma centena de multinacionais  controla direta ou indiretamente mais de 50% da produção econômica mundial e em função destes dados estamos no direito de nos inquietarmos com estes números. Cabe então perguntarmos: Quem controla as empresas multinacionais?  Sabemos que há um desequilíbrio entre capital e trabalho que vem se acentuando cada vez mais, e este é um fato global. Dentro destas perpectivas podemos afirmar que o desequilíbrio entre as relações de capital e trabalho é consequência da ausência de controle democrático sobre o desenvolvimento destas relações.
 
Mas como reabilitar a ação política que construirá um mundo comum, com formas de gestão mais humanas que levem em conta, onde estiver sendo exercida,  o respeito ao meio ambiente,  as solidariedades sociais  e as aspirações mais profundas do ser humano?
 
Para responder, voltamos ao conceito de gestão como um sistema de organização de poder, capaz, em todas as empresas, organizações, instituições, de uma ação política que conceba a exploração dos recursos, pelo modo da conservação e renovação dos recursos naturais. Uma gestão a partir da qual,  cada ser humano no mundo possa ter um lugar como cidadão, como sujeito e como ator. Uma gestão concebida e implementada de modo a construir um mundo que estaríamos orgulhosos de transmitir aos nossos filhos.
 
GAULEJAC, Vincent, Gestão como doença social, S.P: Idéias e letras, 2007

domingo, 30 de janeiro de 2011

Walter Benjamin - Magia e Técnica - Arte e Política

Walter Benedix Schönflies Benjamin nasceu em Berlim, em 15 de julho de 1892  e morreu em Portbou, na data de 27 de setembro de 1940. Era um filósofo e sociólogo judeu alemão.



Associado à Escola de Frankfurt e à Teoria Crítica, foi inspirado pelo místico judaico Gerschom Scholem.


Ele afirmava que há laços entre vida e palavra, evidenciando que a consciência decorre das práticas sociais e culturais da educação não formal. Ele dizia que “esse caráter de comunidade entre vida e palavra apóia-se na organização pré-capitalista do trabalho, em especial na atividade artesanal". Afirmava que "o artesanato permite, devido aos seus ritmos lentos e orgânicos, em oposição à rapidez do processo do trabalho industrial, e devido a seu caráter totalizante, em oposição ao trabalho fragmentário do trabalho em cadeia, por exemplo, uma sedimentação progressiva das diversas experiências e uma palavra unificadora".
 
Walter Benjamin tem razão, pois "o ritmo do trabalho artesanal se inscreve em um tempo mais global, tempo em que se tinha justamente, tempo para contar".
 
De acordo com ele, "os movimentos precisos do artesão, que respeita a matéria que transforma, têm uma relação profunda com a atividade narradora: já que esta é também, de certo modo, uma maneira de dar forma à imensa matéria narrável, participando assim da ligação secular entre a mão e a voz, entre o gesto e a palavra”. (Gagnebin, Apud Walter Benjamin, 2008, 10 e 11 - Magia e Técnica - Arte e Política).
 
Walter Benjamin afirma que quando este fluxo que liga mão e voz se rompe, quando não há mais a transmisão de uma experiência, porque as pessoas não se interessam mais umas pelas outras, cada uma passa a viver de forma isolada e neste compasso memória e tradição já não mais existem e o indivíduo se torna isolado. Assim, seguindo desorientado e com base somente em seus próprios recursos pessoais, desorienta-se e não tem mais com quem compartilhar. e torna-se um desaconselhado.
 
Nesta nova fronteira de tempo, precisamos de novas narrativas, novas fabulações pois as grandes narrativas como a globalização; trabalho para todos, não funcionam mais. Nós teremos que reinventar a vida e construir novos sonhos, num ato criativo de  bricolagem de símbolos, significados e valores passíveis de reinvenção permanente e de experimentação livre” (BECK ; BECK-GERNSHEIM E ALAIN EHRENBERG,  Apud BENDASSOLI, 2007, 294 - Trabalho e Identidade em Tempos Sombrios).
 
Parafraseando Benjamin, a narração não é de modo algum um produto só da voz. A alma, o olho e a mão definem uma prática e esta nos deixou de ser familiar, porque o trabalho produtivo foi sendo transformado em tecnologia e o lugar que o trabalho ocupava durante a narração está agora vazio.  Sua voz se calou!

Na verdade o narrador é a figura na qual o humano se encontra consigo mesmo e sem narrativas (conjuntas, participativas) o ser humano está despossuído de si mesmo, vagando pela estrada que ao final, não vai dar em lugar nenhum!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Mary Parker Follett - A profetisa do gerenciamento

Mary Parker Follett nasceu em Quincy, no ano de 1868, e foi uma autora norte-americana que ficou conhecida como a “profetisa do gerenciamento”. Formou-se em filosofia, direito, economia, serviço social e administração pública.



Como cientista política, assistente social nos anos 20, afirmava que ninguém pode nos dar a democracia, devemos aprender a democracia. Ela dizia que ser democrata é aprender como viver com outros seres humanos. Para ela o indivíduo não é parte do todo, nem uma peça na máquina, nem tampouco um órgão dentro de um organismo; é de um ponto de vista do Todo, ele mesmo.


Follett usava o conceito de grupo com o significado de associação sob a lei da interpenetração. Suas idéias de construção da cidadania são tão avançadas que, publicadas em 1920 sob o título The New State – Group Organization The Solution of Popular Government, são hoje consideradas futuristas e ela está sendo nomeada mundialmente como a profeta do gerenciamento.


Ela sustenta que a organização moderna precisa, acima de tudo, de pessoas capazes de se unir, não das que se unam sem atritos, mas que possam fazer uso de sua união. Destaca que o indivíduo de negócios bem sucedido de hoje é aquele de inteligência cooperativa treinada. Ela afirma que o mundo deposita um grande valor no indivíduo que é capaz de participar de uma reflexão coletiva e de ações unificadas, havendo posições mais altas oferecidas a ele na empresa e no campo político.


Follett usa o conceito de grupo com o significado de associação entre pessoas, sob a lei da interpenetração. Para Follett, em sua natureza, todas as instituições estão latentes e, necessariamente, devem ser adaptadas a essa natureza. Segundo ela, o ser humano, não as coisas, deve ser o ponto de partida para o futuro. Para ela, um cidadão é alguém que ajuda a realizar o propósito para que esta nação exista. Follett afirma que o cidadão deve também ajudar a criar o propósito.


Follett trata dos seguintes assuntos: Como liderar conflitos? É possível prever conflitos? O que são conflitos construtivos?


Follet foi a primeira estudiosa a introduzir o conceito de circularidade na interação dos seres humanos. E o que é a resposta circular? Ela afirma que as relações entre as pessoas estão em constante modificação, que o simples contato entre duas pessoas que se relacionam já altera a forma como cada uma vê uma questão. Ela propõe que há influências recíprocas e que cada nova percepção ao ser recebida irá alterar a forma como pensa, num ciclo contínuo.


E o que é o conflito construtivo? Follett afirma que existem três soluções possíveis para um conflito, seja ele percebido a priori – que é o chamado conflito construtivo – ou a posteriori – que é o conflito danoso. Follett afirma que as divergências são importantes porque revelam uma diferença de opinião que cedo ou tarde se manifestará, de forma danosa ou não.Quais são as três soluções?


A primeira solução seria a DOMINAÇÃO onde somente um dos lados terá suas exigências atendidas, e assim, o conflito será sufocado. A segunda solução diz que os dois lados cederão e um meio-termo será adotado como solução. A CONCILIAÇÃO é uma alternativa nociva já que nenhum dos lados tem suas reivindicações plenamente percebidas atendidas. A terceira solução é a solução ideal proposta por ela, que é a INTEGRAÇÃO, que parte do pressuposto que o conflito existe porque demandas não são atendidas, e essas demandas não devem ser suprimidas, e sim supridas.


Follett diz que as potencialidades do indivíduo permanecem latentes até que elas sejam liberadas pela vida em grupo. Contruir um grupo, saber criar e coordenar equipes interdisciplinares são hoje pontos fundamentais para o sucesso de um projeto, por este motivo, indivíduos e gestores precisam compreender o poder das vizinhanças, o poder do networking, o poder dos grupos de relacionamento.


Follett morreu no Reino Unido em 1933, sete anos depois da morte de sua companheira Isobel Briggs com qual viveu  por mais de 30 anos.

domingo, 9 de janeiro de 2011

EDGAR MORIN - CIÊNCIA, ÉTICA E SOCIEDADE

Edgar Morin citando Wojciechowski diz que "Ciência  e tecnologia triunfaram e fracassaram ao mesmo tempo". Triunfaram materialmente e fracassaram moralmente".

Hoje estamos diante de uma disjunção entre ciência, ética e política e os desenvolvimentos da tecnociência revelam-se uma tragédia. Em todo o campo político a ética é residual; no campo científico não se discutem os desdobramentos, as implicações do desenvolvimento tecnológico - o chamado progresso tecnológico. Enquanto isso o pauperismo acompanha a riqueza como uma sombra.

Na verdade de acordo como as coisas estào montadas, os bens da Sociedade da Informação não são para todos. e como diz Edgar Morin,  a ética está desarmada entre a ciência amoral e a política imoral.

Está certo Morin quando diz que a ciência é um assunto sério demais para ser deixada unicamente nas mãos dos cientistas. Tornou-se perigosa demais para ser deixada unicamente nas mãos dos chefes de Estado. Em outras palavras a ciência tornou-se um problema cívico, um problema de cidadãos. Mas os cidadãos estão, por ora, alijados do  saber que lhes permitiria o acesso ao controle ético da instância política.

Ele afirma que os fundamentos da ética estão em crise, o sentido da responsabilidade encolheu; o sentido da solidariedade enfraqueceu-se. Há uma crise geral dos fundamentos da certeza, uma crise nos fundamentos do conhecimento científico. Há hoje uma privatização da ética.

Edgar Morin fala em "humanismo regenerado, que se baseia na fragilidade e na mortalidade do indivíduo, se baseia no seu inacabamento, trata-se de um humanismo que rejeita a ilusão do progresso garantido, mas acredita na metamorfose das sociedades numa Sociedade-Mundo capaz de tornar-se Terra-Pátria.
(Edgard Morin, Método 6 - Ética).

domingo, 2 de janeiro de 2011

CARL GUSTAV JUNG - FILOSOFIA, ÉTICA E MAGIA

"Minha vida é a história de um inconsciente que se realizou. Tudo o que nele repousa aspira torna-se acontecimento, e a personalidade, por seu lado, quer evoluir a partir de suas condições inconscientes e experimentar-se como totalidade.
A fim de descrever esse desenvolvimento, tal como se processou em mim, não posso servir-me da linguagem científica; não posso experimentar-me como um problema científico". (Carl Gustav Jung).


Carl Gustav Jung uniu em sua obra dois aspectos  -  religião e ciência e dizia: "Lá estava o campo comum da experiência dos dados biológicos e dados espirituais, que até então eu buscara inutilmente. Tratava-se, enfim, do lugar em que o encontro da natureza e do espírito se torna realidade".

Interessou-se por filosofia e por literatura, especialmente pelas obras de Pitágoras, Empédocles, Heráclito, Platão, Kant e Goethe. Estudou em profundidade a alquimia, a magia, o dogma da Trindade. Seus Sete Sermãos aos Mortos é uma obra  misteriosa e mágica que se fecha aos céticos, mas se abre a todo aquele ou aquela que busca entender os caminhos do desenvolvimento do  espírito.

Outro trabalho importante de Jung na esfera da magia é  "O Símbolo da Transformação na missa".

Para perceber a profundidade destes estudos, sublinha-se um de seus trabalhos, o  "Psychological Types", onde ele cita os versos místicos  de Angelus de Silesius, que refletem uma realidade espiritual que ele próprio buscou mostrar no Sétimo Sermão aos Mortos:

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Sei que sem mim
Deus não pode viver um momento;
Se acaso eu perecesse, Ele não poderia sobreviver.

Sou tão grande quanto Deus,
E Ele tão pequeno quanto eu;
Ele não pode estar acima
Nem eu abaixo dele.

Em mim Deus é fogo
E nele eu sou o seu brilho
A nossa é uma vida em comum......
Separados não podemos crescer.

Deus é o homem Ele é para mim
Os dois, na verdade, eu sou para Ele,
Sua sede eu satisfaço,
Em minha necessidade Ele auxilia.

Deus é como é.
Sou o que devo ser;
Se conheces um, na verdade
A Ele e a mim conheces.

Sou a vinha que ele mais cultiva e acalenta
 fruto que de mim cresce É Deus,
O Santo Espírito.
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Esse espírito mágico inspirou Jung em toda sua obra e pode ser sentido em toda a sua profundidade em "Os Sete Sermões aos Mortos". Goethe em  O Fausto, também foi tocado por esse espírito:

Nas marés da vida, na tempestade da Ação,
Uma onda flutuante, uma lançadeira desenfreada,
Nascimento e túmulo, um mar eterno,
Uma vida que tece e flui, todo luminosa,
Assim, no tear sussurrante do tempo
É a minha mão que prepara a vestimenta da vida que a Divindade veste!