Houve uma época na história da
humanidade em que os homens e mulheres viviam em um tipo de sociedade chamada
gentílica que tinha um grande espírito comunitário. Não havia divisão
sexual do trabalho pois todos faziam as mesmas tarefas, desde plantio, cuidado
com as crianças e velhos, conselho e normas. Era a época do Matriarcado.
No Matriarcado o casamento era grupal - ou seja todos os homens casavam com
todas as mulheres - e a mãe era o elemento mais importante da sociedade
gentílica. Todo guerreiro sabia quem era a sua mãe, mas o pai poderia ser
qualquer homem. Quando na mente humana surgiu o traço da conquista de outros
povos, o eixo paradigmático da história deslocou-se para a necessidade de
conhecer novas tribos e conquistar riquezas, e os homens que viviam na
sociedade gentílica - junto com as mulheres - saíram da tribo em busca de
tesouros e ocorreu a primeira divisão sexual do trabalho: as mulheres ficavam
na comunidade gentílica e os homens saíram para conquistar riquezas e outros
povos.
Na época do matriarcado, tudo era concebido de forma interligada: as pessoas; o ser humano e a Natureza; os deuses, tudo deveria ser honrado e respeitado, pois a vida era considerada sagrada, parte da Divindade.
Na época do matriarcado, tudo era concebido de forma interligada: as pessoas; o ser humano e a Natureza; os deuses, tudo deveria ser honrado e respeitado, pois a vida era considerada sagrada, parte da Divindade.
Com o passar da história os
homens que voltavam carregados de tesouros, de riquezas começaram a questionar
sobre quem eram os seus filhos, para deixar a sua herança. Começava aí a
semente da acumulação de bens. Nesta configuração histórica o eixo do Matriarcado
desloca-se para o Patriarcado e o casamento que era grupal passa a ser
monogâmico. Ou seja o casamento monogâmico não tem nada a ver com a igreja e
sim com o espírito de acumulação de bens.
Ora, pode-se afirmar que a família
tradicional, que conhecemos hoje, foi fundada em cima da acumulação de
riquezas, ou seja é fruto e se aperfeiçoou em cima do modelo Capitalista. Ela
perdeu os vínculos comunitários da sociedade gentílica e fechou-se em si mesmo,
rompendo definitivamente os laços sociais que a prendem à Comunidade..
Tocqueville tem um texto que retrata
com muita delicadeza esta perda dos laços comunitários da família:
"Cada pessoa, mergulhada em si mesma,
comporta-se como se fora estranha ao destino de todas as demais. Seus filhos e
seus amigos constituem para ela a totalidade da espécie humana. Em suas
transações com seus concidadãos, pode-se misturar a eles, sem no entanto
vê-los; toca-os, mas não os sente; existe apenas em si mesma e para si mesma. E
se, nestas condições, um certo sentido de família ainda permanecer em sua
mente, já não lhe resta sentido de sociedade." (Tocqueville, Apud
Richard Sennett em o Declínio do Homem Público).
A Família monogâmica - tal qual
conhecemos hoje - e a Sociedade já nasceram separadas, por uma questão de
acumulação. Ou seja há uma fragmentação, separação, exclusão, quando se
pergunta: quem são os meus filhos? . No entanto há uma questão sociológica,
pois a sociedade está dentro do indivíduo, como cultura, linguagem, crença,
mitos.
Há um paradoxo insolúvel. Do lado de
dentro laços profundos unem cada indivíduo com a sociedade e do lado de fora
uma cisão leva cada um a trancar a porta e a desconhecer tudo e todos que se
afastam dos laços sanguíneos.
A família é o núcleo central da
Sociedade e do Estado. Nasceram juntos e juntos se
transformam. Quando a família muda é porque grandes mudanças se
avizinham. E a família está mudando.
Que novos paradigmas de família,
sociedade e Estado estão sendo gestados na mente humana? A Filosofia não tem
respostas, só indagações.