terça-feira, 23 de setembro de 2014

Realismo e Idealismo - Formas de pensar que se complementam

Quantas vezes na vida nos questionamos sobre o que fazer? Ou então nos perguntamos: por que eu? O que foi que eu fiz? O que devo mudar na minha vida? Todas estas perguntas estão relacionadas com o conhecimento que temos, com a forma de aprender que usamos, enfim todas estas questões estão relacionadas com a nossa bagagem, com a nossa forma de ver o mundo.
A verdade é que somos de um jeito. Podemos mudar? o que é preciso? Como fazer isto? Desde a Antiguidade grega que os que amam a sabedoria buscam respostas para estas e outras questões filosóficas.
O que é e como se dá o conhecimento na mente da pessoa? É possível um conhecimento verdadeiro? É possível conhecer a verdade? Estas são as questões que fundamentam a Teoria do Conhecimento ou Epistemologia, que é uma disciplina filosófica.
Cada teoria que busca estudar o conhecimento constitui uma reflexão filosófica que busca investigar o que é e como se dá o conhecimento.
Dentro deste contexto destaca-se a nossa consciência - ou seja a consciência de um sujeito -  e de outro lado - o objeto. O conhecimento se dá quando a pessoa consegue apreender o objeto e representá-lo mentalmente. Dependendo da corrente filosófica, será dada mais ênfase ao sujeito - caso do Idealismo - ou ao objeto - Realismo ou Materialismo.
No caso da corrente filosófica "Idealismo", acredita-se que os objetos, os fenômenos são construídos na mente do indivíduo e são  representados, entendidos, percebidos - de acordo com o conhecimento, de acordo com a capacidade de percepção da pessoa. Ou seja, nesta corrente, acredita-se que a pessoa perceba o mundo com suas idéias. Se for um dogmático, ao perceber o mundo, interpretará os fatos de tal forma, que pensará que só ele sabe tudo. Por outro lado, se for um cético, interpretará os fatos pensando que nada tem jeito.
Platão era um dogmático porque achava que fora da caverna se encontraria o conhecimento, a verdade e não admitia dúvidas quanto a isto.  
Nesta corrente do Idealismo, acredita-se que a pessoa viva e perceba o mundo com o que sabe.
A educação se funda no Idealismo porque acredita que cada aluno tem um “vivido”, um “percebido” e um "concebido". Para a educação, a ênfase é no sujeito, no aluno e é importante saber como o aluno interpreta um um objeto, fato ou um fenômeno.
Já para o 'Realismo' as percepções que temos são reais, verdadeiras. Aqui não se discute o lado subjetivo do indivíduo.  A ênfase é no objeto. Aqui o sujeito interpreta o que vê e o que interessa aqui é o que ele está vendo.
Veja um exemplo, no passado remoto, a humanidade possuía um conhecimento e percebia  uma queda d’água como um fenômeno que servia para tomar banho, para cozinhar, para beber, para lavar os objetos. Ou seja aquele fenômeno era o que era. Apenas uma queda d’água. Era o Realismo imperando na mente dos povos.
Mas um dia alguém olhou para queda d’água e pensou  que aquele objeto poderia gerar energia e criou o monjolo, tecnologia para moer o grão. Ou seja, a queda d’água passou a ser observada a partir de um outro conhecimento, uma outra bagagem. Era o Idealismo se insurgindo no pensamento humano. Ou seja o sujeito apto a alavancar  o conhecimento, a partir do seu conhecimento acumulado.
Ou seja Realismo e Idealismo são formas que a nossa mente utiliza para avançar no entendimento das coisas. Primeiro vemos um objeto, um fenômeno como ele é, depois, com o tempo, vamos percebendo o fato, o objeto, o fenômeno, do nosso jeito, com o conhecimento que temos. É o idealismo. Neste momento cada um interpreta de um jeito.
No filme “the black hole” o sujeito vê o desenho, vê o que é (Realismo), mas ao concebê-lo (Idealismo) fica preso num conhecimento parcial,  particular, pobre.
Na verdade podemos dizer que Realismo e Idealismo são formas paradigmáticas de chegarmos ao conhecimento.

domingo, 21 de setembro de 2014

Pós- Modernidade e os conceito de Crematística em Aristóteles e sociedade civil burguesa em Hegel

 Pós- Modernidade e o conceito de Crematística em Aristóteles
Vivemos hoje um conceito de economia fundada na produção e na apropriação da prosperidade por poucos. Aristóteles[1] já havia estudado este aspecto da economia, quando criou o conceito de crematística,  juntando as idéias de khréma e atos, ou seja a  busca incessante do prazer no domínio individual da riqueza. Significa colocar a acumulação da riqueza antes do meio ambiente, antes da ecologia, antes da política, antes do estado. Simboliza um tipo de economia que não privilegia os seres humanos, nem as matas, nem os rios. Simboliza a degradação sócio-ambiental etc, sem preocupação com as consequências deste tipo de economia predatória.
O pensamento aristotélico influenciou tanto o Direito, quanto a educação, como a economia , no sentido de seu conceito a respeito dos modos de vida privado e  público, no qual o ser humano está envolvido. Modos, certamente imbricados e impossível de separá-los. No entanto hoje este sistema público-privado encontra-se fragilizado pela exacerbação individualista da concepção do modo de vida privado, que carrega consigo como um irmão siamês, o âmbito público, esmaecido, sangrado, quase sem vida.
Na Antiga Grécia, o âmbito privado consistia no ser humano e sua família – Oikos em grego -  que também significava a terra, o meio ambiente, os bens que supriam estas pessoas. Já no âmbito  público havia o conceito de cidadão e ser cidadão significava integrar a administração da justiça e a assembléia que legislava e governava a cidade.
Aristóteles ao definir a Crematística, distinguiu  três modos de adquirir riquezas: a colheita, a troca de bens e o comércio, que segundo ele não poderia ser hierarquicamente superior à política.  Para Aristóteles a vida que vale a pena ser vivida se daria no estado, pela política.
O Indivíduo, o estado e o cidadão
Hegel[2] em sua filosofia do direito traz o significado de sociedade civil-burguesa onde a finalidade é o âmbito particular. O âmbito público é o meio, que existe para satisfazer as necessidades do cidadão privado, significando com isto que as carências de todos servirão de instrumento para suprir a satisfação particular. Neste sentido, perder-se-ia o real sentido da economia, que segundo Aristóteles seria  a de satisfazer as reais necessidades do grupo.
O particular é o princípio da sociedade civil-burguesa” (HEGEL, 2010), enquanto o interesse coletivo está confinado, restringido, aviltado, degradado, enfraquecendo o conceito de estado e de cidadão.
. Mas é bom lembrar que estado e indivíduo são indissociáveis, pois o cidadão surge no imbricamento do estado com o indivíduo. Pode ser um indivíduo comprometido com a res pública ou inteiramente privatizado, desligado dos interesses coletivos que o estado representa.
Na Pós-modernidade a única lei é o lucro e o ser humano  se torna um selvagem, porque no seu individualismo escolheu viver isolado do estado e tornou-se um deus, porque dita a vida a ser vivida por milhares de pessoas, um deus de outra natureza, cujo nome –apesar de tudo – é desconhecido por todos.
Referências bibliográficas
ARISTÓTELES, Política. Tradução Torrieri Guimarães, São Paulo, editora Hemus, 2005.
HEGEL, G. W. F. Princípios da Filosofia do Direito. Tradução Orlando Vitorino. Lisboa: Guimarães Editores, 2010.



[1] O Filósofo grego Aristóteles nasceu em 384 a.C., na cidade de Estágira, e morreu em 322 a.C. Sua filosofia influênciou a educação e o pensamento ocidental contemporâneo. No entanto a Economia não se valeu deste poderoso afluente para lidar com a riqueza, pautada no bem comum.
[2] Filosofo alemão que nasceu em Sttutgart em 1770 e morreu em 1831