sábado, 12 de outubro de 2013

Familia Sociedade e Estado

Houve uma época na história da humanidade em que os homens e mulheres viviam em um tipo de sociedade chamada gentílica  que tinha um grande espírito comunitário. Não havia divisão sexual do trabalho pois todos faziam as mesmas tarefas, desde plantio, cuidado com as crianças e velhos,  conselho e normas. Era a época do Matriarcado. No Matriarcado o casamento era grupal - ou seja todos os homens casavam com todas as mulheres - e a mãe era o elemento mais importante da sociedade gentílica. Todo guerreiro sabia quem era a sua mãe, mas o pai poderia ser qualquer homem. Quando na mente humana surgiu o traço da conquista de outros povos, o eixo paradigmático da história deslocou-se para a necessidade de conhecer novas tribos e conquistar riquezas, e os homens que viviam na sociedade gentílica - junto com as mulheres - saíram da tribo em busca de tesouros e ocorreu a primeira divisão sexual do trabalho: as mulheres ficavam na comunidade gentílica e os homens saíram para conquistar riquezas e outros povos. 

Na época do matriarcado, tudo era concebido de forma interligada: as pessoas; o ser humano e a Natureza; os deuses, tudo deveria ser honrado e respeitado, pois a vida era considerada sagrada, parte da Divindade.
Com o passar da  história os homens que voltavam carregados de tesouros, de riquezas começaram a questionar sobre quem eram os seus filhos, para deixar a sua herança. Começava aí a semente da acumulação de bens. Nesta configuração histórica o eixo do Matriarcado desloca-se para o Patriarcado e o casamento que era grupal passa  a ser monogâmico. Ou seja o casamento monogâmico não tem nada a ver com a igreja e sim com o espírito de acumulação de bens.

Ora, pode-se afirmar que a família tradicional, que conhecemos hoje, foi fundada em cima da acumulação de riquezas, ou seja é fruto e se aperfeiçoou em cima do modelo Capitalista. Ela perdeu os vínculos comunitários da sociedade gentílica e fechou-se em si mesmo, rompendo definitivamente os laços sociais que a prendem à Comunidade..
Tocqueville tem um texto que retrata com muita delicadeza esta perda dos laços comunitários da família:
"Cada pessoa, mergulhada em si mesma, comporta-se como se fora estranha ao destino de todas as demais. Seus filhos e seus amigos constituem para ela a totalidade da espécie humana. Em suas transações com seus concidadãos, pode-se misturar a eles, sem no entanto vê-los; toca-os, mas não os sente; existe apenas em si mesma e para si mesma. E se, nestas condições, um certo sentido de família ainda permanecer em sua mente, já não lhe resta sentido de sociedade."  (Tocqueville, Apud Richard Sennett em o Declínio do Homem Público).
A Família monogâmica - tal qual conhecemos hoje - e a Sociedade já nasceram separadas, por uma questão de acumulação. Ou seja há uma fragmentação, separação, exclusão,  quando se pergunta: quem são os meus filhos? . No entanto há uma questão sociológica, pois a sociedade está dentro do indivíduo, como cultura, linguagem, crença, mitos.  

Há um paradoxo insolúvel. Do lado de dentro laços profundos unem cada indivíduo com a sociedade e do lado de fora uma cisão leva cada um a trancar a porta e a desconhecer tudo e todos que se afastam dos laços sanguíneos.
A família é o núcleo central da Sociedade  e do Estado. Nasceram juntos e juntos se transformam. Quando a família  muda é porque grandes mudanças se avizinham. E a família está mudando.

Que novos paradigmas de família, sociedade e Estado estão sendo gestados na mente humana? A Filosofia não tem respostas, só indagações.




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