domingo, 3 de julho de 2011

A incerteza ética - Edgar Morin

A ecologia da ação indica-nos que toda ação escapa, cada vez mais, à vontade de seu autor, na medida que entra no jogo das inter-retro-ações do meio onde intervém.               

(....) O Fausto de Goethe ilustra o mau resultado de uma boa intenção, e a feliz consequência de uma má intenção.Fausto deseja a felicidade de Margarida, mas tudo o que faz produz infelicidade. Mefisto trabalha pela perdição de Margarida, mas desencadeia a intervenção divina, que a salva.

Daí este primeiro princípio: os efeitos da ação dependem não apenas das intenções do autor, mas também das condições próprias ao meio onde acontece.
Ao considerar o contexto do ato, a ecologia da ação introduz a incerteza e a contradição na ética.

(...) Esse vínculo entre incerteza e ética aparece quando se toma em consideração o ato moral, não isoladamente, mas na sua inserção e nas suas consequências no mundo.


(...) Necessitamos de um conhecimento capaz de levar em consideração as condições da ação e a própria ação, ou seja um conhecimento capaz de contextualizar antes e durante a ação. 


Nada é melhor do que a boa vontade.  Mas ela não basta e pode enganar-se. Um pensamento incorreto, mutilado, mutilador, mesmo com as melhores intenções, pode conduzir a consequências desastrosas. (...) A consideração de toda essa complexidade, a partir dos efeitos perversos ou inesperados do ato, exige trabalhar pelo pensar bem, conforme a expressão de Pascal, ou seja, pensar de maneira complexa.

(Edgar Morin - O Método 6 - Ética)

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