Cada pessoa, cada grupo, cada Comunidade emerge através do relacionamento social, num processo de aprendizado recursivo, que na convivência lança pontes sobre diferenças, possibilitando a cada um recolher talentos, potencialidades, forças desta convivência coletiva. O grupo alimenta o ser de cada um, fornece as chaves para se entrar e reentrar na vida, sempre apontando para as novas possibilidades de aprender.
A arte da liderança remete antes de tudo e ao mesmo tempo a aprender a viver junto, a aprender a interagir, a ser como queremos que os outros sejam, a nos relacionarmos como queremos que se relacionem conosco. A arte da liderança exige que não sejamos fantoches uns dos outros, pois se agirmos e reagirmos em função de como nos tratam, onde fica a nossa autonomia? Devemos ser assertivos, gentis e firmes quando nos relacionarmos uns com os outros, sempre visando o bem comum, na construção deste espírito de grupo, que fornece as forças para vencer os desafios.
Tudo isto nos traz a percepção do que somos capazes como mulheres ou homens, atuando em grupo e do que será importante fazer para desenvolver esta visão de equipe, de grupo. O espírito da liderança é tecido com este fio, que brota das mãos de cada um e pode aprisionar num estilo autocrático ou pode libertar e transformar pessoa e caminhos se for uma liderança democrática participativa.
Não existem escolas, nem caminhos prontos, este espírito coletivo que alimenta cada um, nasce da decisão de se tornar um indivíduo e possui ligações e interconexões que partem de nós mesmos e lançam fios com o todo.
Política, espiritualidade, vida social e trabalho são rizomas distintos que se enlaçam e não há uma cepa predadora, quando a destruição existe é porque o ser humano teceu uma visão individualista da vida e do outro. Na presença de uma visão egoísta, o grupo pode gerar um espírito frágil que não sustenta nem alimenta. Mas a teia coletiva está apta a gerar um espírito fortalecido.
Imbricado a estes rizomas, o ser humano prepara-se constantemente para a gênese de si mesmo, nascendo a cada dia, descobrindo-se nas lições do “você existe em relação”, “nada existe em separado”, “qualquer coisa existe sempre em conjunto”. Não se pode separar o indivíduo da experiência deste inter-relacionamento, pois o ponto de vista individual surge da experiência de grupo e se quisermos mudanças no espírito coletivo do grupo, teremos que apreender delicadamente os outros pontos de vista, que se criam no processo participativo do grupo. A arte liderança significa o desenvolvimento de uma visão fundada num novo individualismo, onde o individual é percebido como centro de forças da vida coletiva.
Precisamos de novas crenças, novos valores, um novo espírito, que leve a perceber que esta força encontra-se latente no grupo e que é ela que pode levar em direção a esta nova fronteira. A vida em grupo é a gênese das capacidades do ser humano, parteja nossas verdadeiras pessoas, liberta as aspirações mais profundas e deflagra a energia necessária para preencher a vida e multiplicá-la.
Estas forças do grupo criam o indivíduo e a sociedade ao mesmo tempo. Dentro deste contexto o indivíduo se forma, aprende a enfrentar contratempos, adquire a capacidade de recuperação, ultrapassa as adversidades e aprende com elas. Nesta aventura o indivíduo busca o pote de ouro que está no final do arco-íris, numa busca incessante. Em verdade está buscando a si mesmo, pois a cada interação apura o seu ser.
O indivíduo deveria se fazer sempre as seguintes perguntas: O que mudou em mim na convivência com estas pessoas? O que aprendi com elas? O que elas aprenderam comigo? Mudaram na convivência comigo? Estas são perguntas que deveríamos nos fazer sempre. Qual a contribuição mútua nos grupos aos quais pertencemos?
O domínio sobre si e sobre as situações é uma decisão que implica na responsabilidade de escolher um caminho, no entusiasmo de redefinir horizontes e desafios e no encantamento de descobrir as novas possibilidades que se escondem nesta incrível aventura social do ser humano no Planeta Terra.
O mito da criação do ser humano denota em suas entrelinhas que se precisa do outro para dar vida a essa aventura, que depende de dois ou mais indivíduos e que necessita do espírito comum, o espírito do grupo, para que as idéias não se dispersem em direções diferentes, mas se transformem em força criativa e construtiva.
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