segunda-feira, 25 de julho de 2011

A arte da liderança - O mito de uma nova heterogênese do humano

Cada pessoa, cada grupo, cada Comunidade emerge através do relacionamento social, num processo de aprendizado recursivo, que na convivência lança pontes sobre diferenças, possibilitando a cada um recolher talentos, potencialidades, forças desta convivência coletiva. O grupo alimenta o ser de cada um, fornece as chaves para se entrar e reentrar na vida, sempre apontando para as novas possibilidades de aprender.
A arte da liderança remete antes de tudo e ao mesmo tempo a aprender a viver junto, a aprender a interagir, a ser como queremos que os outros sejam, a nos relacionarmos como queremos que se relacionem conosco. A arte da liderança exige que não sejamos fantoches uns dos outros, pois se agirmos e reagirmos em função de como nos tratam, onde fica a nossa autonomia? Devemos ser assertivos, gentis e firmes quando nos relacionarmos uns com os outros, sempre visando o bem comum, na construção deste espírito de grupo, que fornece as forças para vencer os desafios.
Tudo isto nos traz a percepção do que somos capazes como mulheres ou homens, atuando em grupo e do que será importante fazer para desenvolver esta visão de equipe, de grupo.  O espírito da liderança é tecido com este fio, que brota das mãos de cada um e pode aprisionar num estilo autocrático ou pode libertar e transformar pessoa e caminhos se for uma liderança democrática participativa. 
Não existem escolas, nem caminhos prontos, este espírito coletivo que alimenta cada um, nasce da decisão de se tornar um indivíduo e possui ligações e interconexões que partem de nós mesmos e lançam fios com o todo.
Política, espiritualidade, vida social e trabalho são rizomas distintos que se enlaçam e não há uma cepa predadora, quando a destruição existe é porque o ser humano teceu uma visão individualista da vida e do outro.  Na presença de uma visão egoísta, o grupo pode gerar um espírito frágil que não sustenta nem alimenta. Mas a teia coletiva está apta a gerar um espírito fortalecido.
Imbricado a estes rizomas, o ser humano prepara-se constantemente para a gênese de si mesmo, nascendo a cada dia,   descobrindo-se nas lições do “você existe em relação”, “nada existe em separado”, “qualquer coisa existe sempre em conjunto”. Não se pode separar o indivíduo da experiência deste inter-relacionamento, pois o ponto de vista individual surge da experiência de grupo e se quisermos mudanças no espírito coletivo do grupo, teremos que apreender delicadamente os outros pontos de vista,  que se criam no processo participativo do grupo. A arte liderança significa o desenvolvimento de uma visão fundada num novo individualismo,  onde o individual é percebido como centro de forças  da vida coletiva.  
Precisamos de novas crenças, novos valores, um novo espírito, que leve a perceber que esta força encontra-se latente no grupo e que é ela que pode levar em direção a esta nova fronteira. A vida em grupo é a gênese das capacidades do ser humano, parteja nossas verdadeiras pessoas, liberta as aspirações mais profundas e deflagra a energia necessária para preencher a vida e multiplicá-la.
Estas forças do grupo criam o indivíduo e a sociedade ao mesmo tempo. Dentro deste contexto o indivíduo se forma, aprende a enfrentar contratempos, adquire a capacidade de recuperação, ultrapassa as adversidades e aprende com elas. Nesta aventura o indivíduo busca o pote de ouro que está no final do arco-íris, numa busca incessante. Em verdade está buscando a si mesmo, pois a cada interação apura o seu ser.
O indivíduo deveria se fazer sempre as seguintes perguntas: O que mudou em mim na convivência com estas pessoas? O que aprendi com elas? O que elas aprenderam comigo? Mudaram na convivência comigo? Estas são perguntas que deveríamos nos fazer sempre. Qual a contribuição mútua nos grupos aos quais pertencemos?
O domínio sobre si e sobre as situações é uma decisão  que implica na responsabilidade de escolher um caminho, no entusiasmo de redefinir horizontes e desafios e no encantamento de descobrir as novas possibilidades  que se escondem nesta incrível aventura social do ser humano no Planeta Terra. 
O mito da criação do ser humano denota em suas entrelinhas  que se precisa do outro para dar vida a essa aventura, que depende  de dois ou mais indivíduos e que necessita do espírito comum, o espírito do grupo, para que as idéias não se dispersem em direções diferentes, mas se transformem em força criativa e construtiva.

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