terça-feira, 8 de dezembro de 2020

A LGPD _ LEI GERAL DE PROTEÇÃO A DADOS

A LGPD

 

        A Lei Geral de Proteção a Dados chega em boa hora, pois há um descaso quanto à subjetividade do jovem e da criança. Há um frenesi estatístico nos artigos científicos sobre percentuais de uso  do Instagram, do Facebook por crianças e jovens e se expõe as crianças e os jovens, mais uma vez a pessoas que violam o imaginário infantil, e que ficam pacientemente aguardando, nestes aplicativos para ações de convencimento.

A LGPD recomenda que dados de pesquisas  e artigos que divulguem informações  de crianças e jovens precisam estar protegidos.  Por exemplo, estes dados estatísticos de pesquisa e seus artigos podem estar disponíveis  nas Secretarias de Educação, para consulta da comunidade, pesquisadores e outros  professores.

A LGPD pode ser implantada com sucesso, mas é preciso entender os riscos da não proteção aos dados da crianças e jovens. O problema não está na burocracia da lei, que até existe, mas sim no campo ético, pois é preciso medir as consequências das publicações destes dados e publicar com proteção aos dados.

É preciso uma adesão maior a esta discussão, já que o Direito Digital é uma conquista de todos.


O imaginário infantil e o brinquedo

 Walter Benjamim, filósofo judeu do século XX, falava do imaginário  infantil e de como este é cooptado pelo adulto, na fabricação do brinquedo. A verdade é que no mundo infanto-juvenil o imaginário não é  preenchido pelas crianças e jovens, que quando criam sonhos, pistas e castelos imaginários, o fazem  com os artefatos criados pelos adultos, o que exige do adulto uma transparente  responsabilidade ética.

Essa discussão hoje precisa recair sobre a narrativa inventada pelo adulto sobre "kid digital influencer". A questão é o apelo à criança e ao jovem para serem influenciadores digitais em troca de dinheiro e produtos para os adultos, que esvaziados de sentido, recorrem ao imaginário infanto-juvenil, "ainda em formação".

 Este debate precisa ser feito, há riscos nessa exposição descompromissada, pois as habilidades cognitivas da criança e do jovem estão em pleno desenvolvimento  de valores e dependem de uma convivência protetiva, progressiva e afetiva com os adultos.


quarta-feira, 12 de agosto de 2020

O diálogo reflexivo como filosofia da tomada de decisão

É terrível quando só nos resta a experiência para nos ensinar. É que a filosofia foi banida da nossa vida diária. E a espiritualidade também.
Queria tanto poder ensinar aos meus filhos e aos meus alunos tudo que eu vivi e aprendi para que pensem e antes de agir avaliem as consequências das ações, e se tornem seres éticos. Mas a experiência é uma rua e a filosofia com a ética é outra rua. Elas são paralelas e se comunicam em seu coração/mente. Você é o vetor da Ética nestas conexões.
A avaliação de cada coisa que você faz e das consequências de suas ações no futuro é que torna o seu ser ético e faz de você um vetor ético.
E não há passaporte para o sucesso, “pois as melhores ações hoje, podem resultar no pior erro” (Edgar Morin). Daí decorre um importante corolário: a avaliação não é uma atividade solitária, ela é resultado da reflexão conjunta e da meditação pessoal.
E na tomada de decisão é bom não esquecer da história de Jonas nas Sagradas Escrituras, que nos ensina que até D’us faz revisão de suas estratégias de ação.

sábado, 21 de dezembro de 2019

Na sua opinião, como seria o modelo ideal de educação?


Entrevista concedida à Andrea Rangel/O Globo


“A educação não pode ignorar a curiosidade das crianças”
– Edgar Morin
Mudanças profundas ocorreram em escala mundial nas últimas décadas do século 20, entre elas o avanço da tecnologia de informação, a globalização econômica e o fim da polarização ideológica nas relações internacionais.
Diante desse cenário, o sociólogo francês Edgar Morin, hoje com 95 anos, defende que a maior urgência no campo das ideias não é rever doutrinas e métodos, mas elaborar uma nova concepção do próprio conhecimento. No lugar da especialização, da simplificação e da fragmentação de saberes, Morin propõe um dos conceitos que o tornaram um dos maiores intelectuais do nosso tempo: o da complexidade.
Em entrevista, o pensador critica o modelo ocidental de ensino que, segundo ele, separa os conhecimentos artificialmente através das disciplinas. Para Morin, as disciplinas fechadas ensinam o aluno a ser um indivíduo adaptado à sociedade, mas impedem a compreensão dos problemas do mundo e de si mesmo.
Na sua opinião, como seria o modelo ideal de educação?
A figura do professor é determinante para a consolidação de um modelo “ideal” de educação. Através da Internet, os alunos podem ter acesso a todo o tipo de conhecimento sem a presença de um professor.
Então eu pergunto, o que faz necessária a presença de um professor? Ele deve ser o regente da orquestra, observar o fluxo desses conhecimentos e elucidar as dúvidas dos alunos. Por exemplo, quando um professor passa uma lição a um aluno, que vai buscar uma resposta na Internet, ele deve posteriormente corrigir os erros cometidos, criticar o conteúdo pesquisado.
É preciso desenvolver o senso crítico dos alunos. O papel do professor precisa passar por uma transformação, já que a criança não aprende apenas com os amigos, a família, a escola. Outro ponto importante: é necessário criar meios de transmissão do conhecimento a serviço da curiosidade dos alunos. O modelo de educação, sobretudo, não pode ignorar a curiosidade das crianças.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Uma interlocução entre Ricardo Reis (Fernando Pessoa) e Cecilia Meireles

Se fosse possível uma interlocução com Fernando Pessoa, talvez o poeta português dissesse-nos como nos renovarmos em 2019:
"Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No minimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive."
(Fernando Pessoa (Odes de Ricardo Reis))
ou nos dissesse de uma outra forma...
"Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas,
O resto e' a sombra
De arvores alheias.
(Fernando Pessoa (Odes de Ricardo Reis)

omo emprestado de Cecília Meireles - para mim mesma e para todos - suas palavras sobre Renovação. Que em 2019 sejamos sempre os mesmos, sempre outro:
"Renova-te.
Renasce em ti mesmo.
Multiplica os teus olhos, para verem mais.
Multiplica-se os teus braços para semeares tudo.
Destrói os olhos que tiverem visto.
Cria outros, para as visões novas.
Destrói os braços que tiverem semeado,
Para se esquecerem de colher.
Sê sempre o mesmo.
Sempre outro. Mas sempre alto.
Sempre longe.
E dentro de tudo".

sábado, 25 de agosto de 2018

Não há passaporte fácil para o sucesso

É terrível quando só nos resta a experiência para nos ensinar. É que a filosofia foi banida da nossa vida diária. E a espiritualidade também.
Queria tanto poder ensinar aos meus filhos e aos meus alunos tudo que eu vivi e aprendi para que pensem e antes de agir avaliem as consequências das ações, e se tornem seres éticos. Mas a experiência é uma rua e a filosofia com a ética é outra rua. Elas são paralelas e se comunicam em seu coração/mente. Você é o vetor da Ética nestas conexões.
A avaliação de cada coisa que você faz e das consequências de suas ações no futuro é que torna o seu ser ético e faz de você um vetor ético.
E não há passaporte para o sucesso, “pois as melhores ações hoje, podem resultar no pior erro” (Edgar Morin). Daí decorre um importante corolário: a avaliação não é uma atividade solitária, ela é resultado da reflexão conjunta e da meditação pessoal.
E na tomada de decisão é bom não esquecer da história de Jonas nas Sagradas Escrituras, que nos ensina que até D’us faz revisão de suas estratégias de ação.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

O Indivíduo, o estado e o cidadão


 Pós- Modernidade e o conceito de Crematística em Aristóteles

Vivemos hoje um conceito de economia fundada na produção e na apropriação da prosperidade por poucos. Aristóteles[1] já havia estudado este aspecto da economia, quando criou o conceito de crematística,  juntando as idéias de khréma e atos, ou seja a  busca incessante do prazer no domínio individual da riqueza. Significa colocar a acumulação da riqueza antes do meio ambiente, antes da ecologia. Simboliza um tipo de economia que não privilegia os seres humanos, nem as matas, nem os rios. Simboliza a degradação sócio-ambiental etc, sem preocupação com as consequências deste tipo de economia predatória.

O pensamento aristotélico influenciou tanto o Direito, quanto a educação, como a economia , no sentido de seu conceito a respeito dos modos de vida privado e  público, no qual o ser humano está envolvido. Modos, certamente imbricados e impossível de separá-los. No entanto hoje este sistema público-privado encontra-se fragilizado pela exacerbação individualista da concepção do modo de vida privado, que carrega consigo como um irmão siamês, o âmbito público, esmaecido, sangrado, quase sem vida.

Na Antiga Grécia, o âmbito privado consistia no ser humano e sua família – Oikos em grego -  que também significava a terra, o meio ambiente, os bens que supriam estas pessoas. Já o âmbito  público havia o conceito de cidadão e ser cidadão significava integrar a administração da justiça e a assembléia que legislava e governava a cidade.

Aristóteles ao definir a Crematrística, distinguiu  três modos de adquirir riquezas: a colheita, a troca de bens e o comércio, que segundo ele não poderia ser hierarquicamente superior à política.  Para Aristóteles a vida que vale a pena ser vivida se daria no estado, pela política.


Hegel[2] em sua filosofia do direito traz o significado de sociedade civil-burguesa onde a finalidade é o âmbito particular. O âmbito público é o meio, que existe para satisfazer as necessidades do cidadão privado, significando com isto que as carências de todos servirão de instrumento para suprir a satisfação particular. Neste sentido, perder-se-ia o real sentido da economia, que segundo Aristóteles seria  a de satisfazer as reais necessidades.

O particular é o princípio da sociedade civil-burguesa” (HEGEL, 2010, § 189), estando confinado, restringido, aviltado  o interesse universal. Mas é bom lembrar que estado e indivíduo são indissociáveis, pois o cidadão surge no imbricamento do estado com o indivíduo. Pode ser um indivíduo comprometido com a res pública ou inteiramente privatizado, desligado dos interesses coletivos repreaentados pelo Estado.

Na Pós-modernidade a única lei é o lucro e o ser humano  se torna um selvagem, porque no seu individualismo escolheu viver isolado do estado e tornou-se um deus, porque dita a vida a ser vivida por milhares de pessoas, um deus de outra natureza, cujo nome –apesar de tudo – é desconhecido por todos.

Referências bibliográficas

ARISTÓTELES, Política. Tradução Torrieri Guimarães, São Paulo, editora Hemus, 2005.

HEGEL, G. W. F. Princípios da Filosofia do Direito. Tradução Orlando Vitorino. Lisboa: Guimarães Editores, 1990.




[1] O Filósofo grego Aristóteles nasceu em 384 a.C., na cidade de Estágira, e morreu em 322 a.C. Sua filosofia influênciou a educação e o pensamento ocidental contemporâneo. No entanto a Economia não se valeu deste poderoso afluente para lidar com a riqueza, pautada no bem comum.
[2] Filosofo alemão que nasceu em Sttutgart em 1770 e morreu em 1831