domingo, 30 de março de 2014

A Ética não pode ser flexível - mas precisa ser transgressora

A Ética não pode ser flexível, porque ela é um modelo mental, um modelo de pensamento. Ela representa o paradigma de idéias que envolve o bem comum.

Diferentemente deste postulado, pode-se afirmar qua a Ética é trangressora e é por ser assim que  a moral da sociedade evolui.

Por exemplo na sociedade escravista - que tinha como bem comum o escravo -  insurgiram-se novas idéias em relação ao bem comum, deslocando-se o eixo do bem para a liberdade.

A transgressão ética simboliza o avanço do pensamento em direção a novas marcas morais. Se a ética for flexível, não se tem avanço do pensamento, das idéias, porque acaba-se aceitando tudo como sendo normal e instaura-se a normose, uma infecção social, que se alastra do tipo ´todo mundo faz, eu também vou fazer igual´.

Mas o indivíduo  ético tem por obrigação transgredir e criar novos campos de reflexão, quando perceber que as práticas da moral vigente  não atendem mais ao conjunto da sociedade.

.Não se pode ser flexível diante de práticas e condutas que não correspondem aos anseios de humanização mais profundos da vida em comum.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Continuando a falar de Solidariedade Orgânica e Solidariedade Mecânica

Durkheim criou os conceitos  de Solidariedade Orgânica e Solidariedade Mecânica e este é um assunto delicado, que remete à Ética na atual cultura de mercado capitalista, que adota uma ética instrumental, que é a fundada no lucro. A Ética do bem comum passa longe da cultura de mercado.
Neste contexto de cultura de mercado capitalista surge o conceito de stakeholder - ou seja os colaboradores, partes interessadas - que são fornecedores, terceiros, clientes, funcionários. Na verdade todos estamos envolvidos nesta divisão do trabalho que permeia o mundo. A cultura da solidariedade orgânica envolve o globo terrestre, na divisão do trabalho que se representa no Mercado.
Os operários da Foxconn - parceira da Apple em vários países do mundo, em sua cadeia produtiva de I-Pod's, são stakeholder da Apple também. Mas A ética fundada no lucro não enxerga todos os colaboradores na cadeia produtiva, nesta extensa divisão do trabalho. E os operários da fábrica chinesa da Foxconn são movidos a trabalho escravo e vários se suicidaram. Neste mundo capitalista, onde Apple e Foxconn são parceiras, organicamente todos estamos envolvidos como clientes no Mercado. E  como sociedade em geral, não se pode dizer: "Eu não tenho nada a ver com isto". pois, na verdade, não há o retorno à solidariedade mecânica. 
Na cultura capitalista, a cada lançamento da Apple os clientes fazem fila nas portas dos shoppings, das lojas. Todos estamos envolvidos e somos vítimas ou cúmplices. Só uma reforma mental universalizada pode nos guiar a novas fronteiras de uma economia ecológica.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Ética e Responsabilidade Social na Solidariedade Orgânica - Um estudo em Émily Durkheim

Falar sobre Ética e Responsabilidade Social em épocas de Capitalismo chamado selvagem, requer que analisemos os fatos a partir de uma percepção de conjunto. E neste ponto surge o conceito de solidariedade orgânica, que simboliza que todos nós estamos comprometidos ou associados na extensa divisão social do trabalho, ao redor do mundo. 

Por exemplo: Eu não planto café, nem transporto o café para o mercado, nem trabalho no mercado, mas todos os dias tomo café, cujo pó alguém comprou para me servir o café, seja no trabalho, na rua  ou em casa. Este é um pequeno exemplo, mas imagine toda a solidariedade orgânica que envolve o mundo. Dependemos uns dos outros, nesta cadeia produtiva sem fim, ao redor do planeta. 

O sociólogo Émily Durkheim estudou a solidariedade orgânica e a divisão do trabalho ligada a esta solidariedade. Em suas pesquisas verificou que a modernidade nos trouxe uma indústria com muitas tecnologias, o que permitiu que o trabalho se dividisse ao longo de uma cadeia produtiva, que se perde de vista através das Redes e fronteiras. 

A partir deste estudo podemos ir mais longe em nossas observações e análises. Criou-se a terceirização, a quarteirização e os trabalhadores perderam os sentidos do que estão fazendo nesta cadeia produtiva tão complexa. Esta complexidde criou e adensou cada vez mais o que Durkheim chama de anomia, ou seja um trabalho sem o sentido de enriquecer a identidade da pessoa, um trabalho que se funda no lucro, apenas. Vida e trabalho se desconectaram. 

Mas tudo isto não deve ser analisado como uma caça às bruxas, não existem culpas, mas uma cultura capitalista, muitas vezes irresponsável e anti-ética que se dissemina ao redor do planeta .

Convém, neste momento, que cada um de nós faça uma reflexão sobre os próprios atos. 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

QUEM É VOCÊ?

'Você!', disse a Lagarta desdenhosamente. Quem é você?[1]

Eu sou a luz das estrelas, eu sou a cor do luar, eu sou as coisas da vida, eu sou o medo de amar.[2]
Ora, para dizer a verdade...
Quem sou eu e quem é você? Nessa história eu não sei dizer. Mas, eu acredito que ninguém tenha vindo pro mundo a passeio[3].

Sabe, a verdade é que...
É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer, porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo...
Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania, depende de quando e como você me vê passar. Não me deem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre[4].

E você? Quem é você? Já parou para pensar nisso?



[1] Trecho de conversa entre Alice e a Lagarta do livro ‘Alice no país das maravilhas’, de Lewis Carroll.
[2] Trecho da música ‘Gitá de Raul’ Seixas e Paulo Coelho.
[3] Trecho da música ‘Rock Estrela’ de Léo Jaime.
[4] Poesia de Clarice Lispector extraída do livro ‘PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM’.

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Um filosofia na Síndrome de Asperger - a natureza humana apresenta uma outra forma de existir na vida

Uma descoberta que vale uma pesquisa mais aprofundada é sobre a Síndrome de Asperger, que causa deficit de atenção, déficit de interação e comunicação, tanto a verbal como a não verbal.

Trago a filosofia do cotidiano, a ser descoberta fenomenologiamente no ato de viver.  Meu filho tem síndrome de Asperger e no dia a dia até a data, na interação social, comunicação e atenção vive uma realidade muito particular, no silêncio de sua forma de viver.

Neste fim de ano, no entanto, ganhou um celular de plataforma Android e um Tablet e através destas interfaces que conectam-se às mídias sociais, vem demonstrando que estes recursos imprimem um ganho de interação, comunicação e atenção,  uma extensão nova, uma nova capacidade, cujos efeitos merecem ser pesquisados e entendidos.

Fico por aqui, por enquanto....

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Rosiska Darcy de Oliveira - O novo atrapalha a Teoria

Rosiska Darcy de Oliveira é um nome importante em uma Filosofia do pensamento, para fecharmos o ano de 2013. Darcy de Oliveira foi casado com ela.
Gosto de ter acesso aos seus escritos e filosofar com os seus pensamentos:
 É difícil entender o novo. O novo atrapalha a teoria, diz Rosiska.
Realmente a pós-modernidade não comporta Teorias, só conceitos podem ser debatidos buscando se costurar alguma visão do cotidiano. Alan Touraine fala no fim do social e o surgimento de uma nova forma de conviver mais comunitária.
Rosiska arrisca um esboço do futuro, quando mostra o jogo perdido dos partidos que se conectam à tomada do poder, enquanto a palavra emblemática hoje, remete a um exercício democrático em que o poder é relacional e se distribui em múltiplas redes de participação.
Ela fala de uma cidadania em um Estado virtual sem fronteiras, que se estende nas veias telemáticas da Internet, demarcando o facebook como um “aparelho” ubíquo, que está em todos os lugares ao mesmo tempo.
A rede traz uma cultura global contemporânea e as Teorias são tecidas todos os dias porque na Rede não há uma cepa predadora. O que se aprendeu hoje, amanhã ganha novos contornos, porque novos atores entram em cena, numa teleologia cuja finalidade é questionada todos os dias. Não há limites ao pensamento, talvez por este motivo possa-se trazer Marx: Tudo que é sólido se desmancha no ar.

Talvez possa-se trazer Nietzche  que afirma a morte de D’us,  Mas em Rosiska a comparação com Nietzche não se dá por uma questão de negação da espiritualidade, nem como crítica à falsa sociabilidade.  Há aqui uma questão de lógica do pensamento, que,   na pós-modernidade deixa de ser dogmático e aceita novas explicações para a vida, para a política, para o amor. Esta abertura do pensamento permite expressar-se em novas nuances, num amplo espectro de cores, através das Redes Sociais.

A Democracia está sendo questionada e a Fenomenologia provavelmente é a metodologia mais adequada para acompanhar o novo que desconstrói as Teorias montadas e remontadas pelos políticos e partidos que não percebem a ubiquidade da Internet e tentam compreender o novo com  suas ferramentas de pensamento, antigas. 

Eles querem seguir sem serem  incomodados, mas só há um detalhe: "o Novo atrapalha a Teoria".  

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A sociedade está no indivíduo e o indivíduo está na sociedade - Mas esta relação funciona?

A relação sociedade-indivíduo significa que os valores que estão vigentes formam a mente do ser humano e, dentro desta premissa, todo o seu raciocínio recebe influências dos valores, das crenças que conformam a sociedade. Ou seja a mentalidade do indivíduo é social,  assim não é o sujeito que é escravista mas a sociedade que o educou.

Dentro deste pensamento no entanto, cabe uma reflexão, pois o indivíduo também forja a sociedade em que vive. Um exemplo desta relação podemos ver a partir do momento em que a sociedade, por questões econômicas deixou de ser escravista. Não foi uma opção moral, nem ética dos grandes empresários. É certo que havia um clamor no mundo sobre a igualdade, fraternidade e liberdade, mas foram os novos paradigmas econômicos que empurraram a sociedade para as novas fronteiras de "liberdade" (?!).

Como não foi uma reforma mental ética, podemos afirmar que hoje a sociedade deixou de ser escravista, mas uma grande maioria de indivíduos continua submetendo muitas pessoas aos seus preconceitos, sujeitando pessoas, escravizando de outras formas, pelo salário, pelo apadrinhamento de amigos, em detrimento da competência, explorando a seu bel prazer a condição humana, a partir de todas as formas de preconceitos, identidades, diferenças e sujeição..

O indivíduo pode mudar a sociedade em que vive, mas é preciso que se continue a lutar por uma reforma mental, a partir de uma ética que se incorpore em todas as estruturas sociais e mentais. Mas isto leva tempo, no entanto dar o primeiro passo é mais da metade do caminho.

Dentro desse contexto, fico com a frase do poeta:  Viver em sociedade sem desenvolver senso de humor, é ruim, mas é pior viver numa sociedade em que se tenha de ter senso de humor para viver.