O SAPATEIRO INTELIGENTE
O
Mestre havia combinado com os alunos que a cada dia escolheriam o local onde estudariam, pois ele
dizia que todos os lugares e ocasiões são espaços de aprender. Naquele dia era
noite e chovia bastante e os discípulos tardavam em chegar, pois moravam distante
e o local escolhido naquela noite ficava
em um lugar de difícil acesso.
A
chuva caía forte e as condições ainda eram precárias, quando todos chegaram à
gruta. Sem que houvessem combinado quem teria a palavra aquele dia, Nicolau, o jovem
turco aproximou-se da fogueira que haviam construído e iniciou o diálogo:
___A que se assemelha o trabalho e a oração? E contou uma estória.
Era uma vez um homem que sempre ia buscar água na fonte com um cântaro e que era um sapateiro. Quando voltava com o seu cântaro cheio de água, ia para oficina e fazia lindos sapatos, de todos os tipos e tamanhos. Seus sapatos eram conhecidos em muitos lugares porque eram feitos com muita perfeição. Até para vendê-los ele procurava fazer algo diferente. Sempre que um modelo novo era reproduzido, ele pegava um par, as vezes dois, dependia da quantidade produzida, e ao invés de ir direto par casa, ia pelas redondezas da cidade olhando a tudo e deixava os sapatos em algum lugar do caminho.Um dia os aprendizes da fábrica ficaram curiosos e o seguiram e voltaram sem entender, pois ele deixou os sapatos na estrada e voltou para casa.
No dia seguinte perguntaram a ele porque fazia daquela forma e ele respondeu:
____É que faço meu trabalho de sapateiro com amor e o amor é um caminho, que precisa ser compartilhado por muitos. Então inventei esta forma, e sempre que faço um sapato, eu penso em quem paga para usar e no sapato que vou dar, para que digam do fundo do coração:
_____Abençoado o sapateiro que fez estes sapatos! Assim fazendo acrescento valor ao meu trabalho, tenho testemunhas do que faço e só então eu me dirijo ao templo e apresento os meus pedidos a Deus.
Quando Nicolau - o turco - terminou a história, a chuva também tinha passado e todos se levantaram e saíram
conversando. Um a um foram saindo da gruta, levando consigo a idéia do trabalho inteligente. Só o Mestre
ficou e em silêncio. Olhou
a gruta, o chão e o teto, abstraiu o céu e as estrelas e viu a gruta em cada
oficina e a oficina em cada templo. Fechou os olhos para cochilar um pouco, um
cochilo rápido, porque ele ainda tinha muito que fazer e ainda não havia
chegado o sétimo dia.
(escrito por Regina Moraes - para o Shemá - Filosofia Gnóstica)
(escrito por Regina Moraes - para o Shemá - Filosofia Gnóstica)
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