terça-feira, 27 de março de 2012

Francis Bacon e as falsas noções que adquirimos no processo de conhecimento.


Francis Bacon (século XVI / XVII - 1561 -  1626) formalizou o Método Dedutivo - cujo raciocínio parte da observação de um universo mais geral para chegar a uma solução para um contexto particular. Fiquei avaliando como usamos este método dedutivo no nosso dia a dia. Um exemplo é a pesquisa bibliográfica, a partir da qual consultando vários livros, pesquisando sites, conseguimos finalmente formular um problema, definir uma doença. Outro exemplo de dedução muito comum: o processo eleitoral - no qual avaliamos vários candidatos de vários partidos e escolhemos, segundo nossa relevância, aquele que responde melhor ao que entendemos como um político ético e empreendedor. 


O Método Dedutivo leva a pessoa a observar e raciocinar a partir de um universo mais amplo conhecido, para chegar a um saber particular desconhecido. No entanto a conclusão não pode exceder as premissas e a interpretação vale mais do que a experimentação. Por este motivo considero o processo eleitoral um bom exemplo de raciocínio dedutivo, porque ouvindo os candidatos ou lendo sobre eles, ou mesmo reunindo-se com eles,  observando um amplo espectro de possibilidades e características, a pessoa adquire um conhecimento  que surge da interação que estabelece com cada um dos candidatos. Um saber válido, inédito porque único, que não está disponível, que não pode ser comprado, que é novo e que surge a partir da interação da pessoa com os candidatos e da iteração consigo mesmo, pelo emprego  de operações de raciocínio a partir das quais o que aprendeu será a base de dados (bagagem) que usará no aprendizado, de forma recursiva.


Francis Bacon sistematizou também o que ele chamou de ídolos para analisar as falsas noções que se revelam responsáveis pelos erros cometidos pela ciência ou pelos homens. Os ídolos foram classificados em quatro grupos:
1) Ídolos da tribo. Ocorrem por conta das deficiências inerentes à natureza humana. Estes ídolos podem manifestar-se porque somos parte de um processo evolutivo permanente e progressivo.
2) Ídolos da caverna. Resultam das limitações do indivíduo - uma alusão à Platão em mito da caverna. Ou seja enxergamos por sombras - conchas na praia -  enquanto a realidade - o oceano profundo do conhecimento - permanece insondável diante de nós.
3) Ídolos do mercado. Estes estão vinculados à linguagem, à comunicação.  Para compreender os ídolos do mercado valho-me de uma experiência que vivi com minha filha e sua amiguinha quando tinham cinco anos. Ofereci a cada uma delas uma fruta e logo depois ofereci outra. A minha filha respondeu:  "Esta basta". Enquanto que a amiguinha respondeu: "Esta está boa, tia". Para minha filha era uma soma e para a outra menina era uma substituição. Ora em uma comunicação tão simples onde eu era o emissor e haviam dois receptores, eu percebi  como cada uma possuia noções diferentes. Entre o emissor e o receptor existe um mundo de experiência, bagagens, noções que nos fazem cada um seres ímpares - portadores de "dialetos". Eu afirmo: É preciso cuidado com a comunicação, precisamos conhecer nossos ídolos para aprendermos a lidar conosco mesmo e com os outros e implementarmos uma comunicação laica.
4) Idolos do teatro. Decorrem das falsas noções filosóficas, políticas e religiosas.

Percebo o fosso existente entre nós e nós mesmos. Pois somos o que fomos, o que somos e o que seremos. Fico com a noção de que precisamos trabalhar melhor os nossos ídolos, para que possamos aprender a viver, a amar, e incluindo-se aí aprender como  escolher melhor os nossos representantes políticos.


Em tudo na vida, a todo instante é preciso aprender a lidar com as falsas noções que adquirimos no processo de conhecimento, ou seja temos que rever o nosso processo de aprendizado - como aprendemos? Jacques Delors em seu Relatório da Unesco sobre a Educação para o século XXI, coloca como um dos pilares da educação "Aprender a aprender" - certamente uma das importantes tarefas que temos à frente. O Relatório está publicado em forma de livro no Brasil, com o título Educação: Um Tesouro a Descobrir (UNESCO, MEC, Cortez Editora, São Paulo, 1999).  

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