sexta-feira, 26 de julho de 2013

A ação social em Weber

Weber  (1864 - 1920) foi um economista alemão, jurista e classicamente é considerado um dos fundadores da Sociologia.

Para Weber a sociedade pode ser compreendida a partir do conjunto das ações individuais e Weber diz que a ação social é o que o indivíduo faz, orientando-se pela ação de outros. Complementando, a ação social se dá em nível tácito e aqui a voz não é o elemento mais importante, mas o gesto, a atitude, o comportamento, são os mobilizadores das ações sociais.

Weber estabeleceu quatro tipos de ação social. Segundo ele,  são conceitos que explicam a realidade social, mas não são a realidade social: Ou seja a realidade é muito maior, pois compreende os atores, as tecnologias, o contexto e as práticas que tecem a Rede integrada e interagente de ações sociais,  

São as seguintes as ações conceituadas por Weber e aqui faço algumas considerações fruto de estudos sobre o autor.
1 – ação com relação a valores: crença num valor considerado importante - Ou seja nos identificamos com certos valores e nos afastamos de outros - identidade e rejeição. Esta valoração nos levará a posturas e práticas na rede intrincada de ações sociais;
2 – ação afetiva: determinada por afeições - Aqui as ações são pautadas pelas afeições, independente de valores que possam sustentar a ação; 
3 – ação com relação a fins: ação pautada em objetivos e que organiza os meios necessários.- ação que não é sustentada nem por valores, nem por afetos, mas pelos objetivos a serem alcançados e a partir desta ideologia organiza os meios necessários;
4 – ação tradicional: determinada por um costume ou um hábito arraigado - ação que é mobilizada pela tradição vigente, pode-se falar aqui em ação como fato social, posturas e práticas "aprendidas", "incorporadas" e que são parte do legado cultural, uma razão  herdada.

Há uma teleologia na rede e não se sabe qual a finalidade - a resultante final - pois disputam entre si os valores, os afetos, os objetivos e a tradição. Para Weber, as regras e normas sociais não são exteriores aos indivíduo. Para ele as normas e regras sociais são o resultado do conjunto de ações individuais.


Ou seja a reforma política não é externa ao ser humano, antes passa por uma reforma da mente e não se sabe qual é o fim, pois novas variáveis continuam sendo tecidas tacitamente e a mente é o grande palco onde tudo acontece.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Experienciando uma Interpretação Filosófica da parábola "O argueiro no olho"

Parábola contada pelo Rabi de Nazaré para ensinar aos ouvintes.  Fiz uma interpretação do ensinamento.
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Parábola: Por que olhas a palha que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu? Como ousas dizer a teu irmão: deixa-me tirar a palha do teu olho, quando tens uma trave no teu? 

Esta parábola é uma metáfora para compreender o  significado dos  novos paradigmas. Na maioria das vezes não percebemos  as pequenas mudanças em nós ou a nossa volta ou não as valorizamos, mas elas se instalam e parafraseando  José Saramago, nenhuma mudança é repentina, pois  o destino leva tempo a se decidir. É como se tivéssemos um argueiro no olho, que nos impede de vermos o quadro real. A questão é que na imensa maioria das vezes nos perdemos em críticas e ao invés de focarmos na solução dos problemas, nós investimos nossa criatividade nos conflitos..
Esta parábola remete ao dogmatismo, quando acreditamos que o outro diante de nós está interpretando a tudo de uma forma errada. Temos as nossas certezas e acabamos por nos tornar etnocêntricos, acreditando que quem não pensa como nós está errado. Na verdade, é fundamental entender que nenhuma interpretação da vida é desligada da experiência de quem a construiu. Isto se chama relativização, ou seja, é fundamental compreender que  toda interpretação é resultado de uma vivência e no máximo nos cabe, gentilmente, dizer ao outro: não penso como você, para mim, esta questão tem um outro significado. E se valer a pena, se a pessoa for muito importante para você, mostrar como você vê o problema, com delicadeza, sem antagonizar..
Na verdade, a metáfora se refere a um cego guiando outro cego, pois dentro da visão dogmática, o outro para nós simplesmente não existe, não o reconhecemos, nem o respeitamos e nesse compasso se instala a indiferença, tão prejudicial nos relacionamentos. A realidade é que cada um de nós interpreta a tudo de um  jeito próprio, de acordo com a bagagem que se tem e certamente sempre existirão diferenças entre as visões das pessoas. Distintas experiências ajudam a  complementar as maneiras de ver o mundo e delinear juntos uma solução mais inteligente, que enxerga muito mais, por acréscimo da maneira de ver do outro.
A maior diferença entre s pessoa não é tanto de gênero, cor ou orientação sexual, mas sim a forma de pensar, de resolver problemas, de criar soluções. E esta propriedade  da mente pode ser usada em favor da vida em grupo, pois nenhuma solução é isolada ou individual, pois sempre existe mais de uma pessoa envolvida nos contextos.
Na verdade ficar olhando o problema não é a melhor alternativa para encontrar a solução, a experiência tem mostrado que focar no contexto que gerou o problema é parte da  solução. E quando se integram pessoas neste esforço, a solução criativa acontece, porque nada é isolado.
Nas organizações empresariais esta metáfora do argueiro no olho remete ao enfraquecimento  do profissional, do administrador, do gestor, porque pessoas e soluções se perdem na ilusão de que só existe uma forma de resolver os problemas. Na verdade as pessoas pensam diferente  umas das outras e esta é a riqueza do mundo, a mente é social e colaborativa, de uma complexidade e simplicidade indescritível.

Em nível pessoal, as pessoas se perdem porque ficam olhando os defeitos dos outros e isto se for realizado por muito tempo, acaba por gerar um entorpecimento mental, que não traz a tão sonhada capacidade criativa para resolver problemas e impede a pessoa de enxergar os novos caminhos, as soluções inteligentes, que já estão ali, mas estão embaçadas pela visão individualista.

domingo, 30 de junho de 2013

Hannah Arendt Edgar Morin e Paulo Freire - Uma interlocução necessária

Johanna Arendt - Hannah Arendt - (1906 - 1975) deixou-nos um legado muito importante sobre a condição humana, quando conceitua o sujeito e sua relação com a ideologia vigente, com a cultura, com a mentalidade do povo. De uma certa forma o conceito assemelha-se ao conceito de fato social de Émile Durkheim, ou seja quando nascemos enfrentamos toda uma carga de restrições  linguística, cultural, religiosa que nos forma, conforma e de forma. Entra-se na vida pelas águas do discurso e da ação, e somos na maioria das vezes levados pela correnteza, arrastados pelas ondas culturais.

Hannah Arendt diz: 

“Embora todos comecem a vida inserindo-se no mundo humano através do discurso e da ação, ninguém é autor ou criador da história de sua própria vida. Em outras palavras, as histórias, resultado da ação e do discurso, revelam um agente, mas esse agente não é autor nem produtor. Alguém a iniciou e dela é o sujeito, na dupla acepção da palavra, mas ninguém é seu autor.”

Arendt usa o termo "sujeito" no sentido de "sujeitado"a um discurso, que envolve e restringe. 


Para cotejar a bela conceituação de Hannah Arendt trazemos Edgar Morin e Paulo Freire.


Edgar Morin tem uma bela definição para cultura: Ele diz que é nossa prisão, mas também nosso salto às estrelas. Visto por este ângulo, a sujeição não é definitiva, nem inexorável, e a única porta que Morin vê para a liberdade desta condição humana é o discurso. Há aqui um paradoxo, pois o que aprisiona é o que pode libertar. Não há heróis nesta jornada solitária, há seres humanos que lutam e se libertam.


Quanto a Paulo Freire, o professor registrou a importância do indivíduo tornar-se sujeito, e em sua tomada de consciência, libertar-se da opressão, da ideologia vigente e tornar-se sujeito de si mesmo, tornando-se autor e produtor de sua própria vida.


sábado, 22 de junho de 2013

Walter Benjamin: Erfahrung e Erlebnis - Mídia social, experiência Coletiva e experiência isolada

A experiência individual (Erlebnis) que se representa na mídia social mostra o artesanato na arte da construção da experiência coletiva (Erfahrung). e o surgimento de uma nova narrativa - vida conjunta que se tece numa história comum a muitos.

Walter Benjamin  conceitua narrativa como um relato comum ao narrador e ao ouvinte, uma comunidade de vida e palavra, que segundo Benjamin destruiu-se com o Capitalismo, causando a perda da experiência coletiva.

Esta comunidade entre vida e palavra funda-se na atividade artesanal. Quando esse fluxo da narrativa coletiva, da vivência conjunta se esgota, quando cada um constrói a informação de forma isolada, olhando para a sua própria experiência, restringido à sua própria bagagem,  "o indivíduo isolado e desorientado encontra o seu duplo no herói solitário do romance".

Walter Benjamin estabelece um laço importante entre o fracasso da Erfahrung (experiência coletiva), e o fim da arte de narrar - que defino como o artesanato da informação, o que envolve laços  entre o indivíduo e sua comunidade.

Benjamin destaca o jornal como hoje ocupando este espaço informacional, em detrimento da construção da informação  pelo individuo. No entanto, a partir da arte da aprendizagem conjunta entre indivíduos e a comunidade que os acolhe - o artesanato informacional como "uma semente, carrega suas forças germinativas" e faz surgir com o tempo, "uma nova organização social comunitária".

A  mídia social como espaço público  se define também como um local para  tecer a informação de forma coletiva, evidenciando a possibilidade da construção artesanal da informação, levando progressivamente à construção de novas narrativas - vida e palavra - que enlaçam distintas Erlebnis (experiências individuais) e progressivamente destacam a Erfahrung (experiência coletiva) de Walter Benjamin.




terça-feira, 18 de junho de 2013

O espaço público na Rede Social: Uma nova ordem ética e política

         O espaço público na Rede Social é um modelo de tecnologia-informação-comunicação, criado na interação social entre indivíduos e dinamizado na conexão entre computadores, onde a as pessoas constróem a informação, de forma participativa, ampliando experiências, idéias. Não há uma cepa predadora na Rede, não há uma liderança, pois a rede  não tem um centro.

         Esta conexão entre pessoas, como um serviço público, propicia o diálogo, e estimula a busca participativa de uma solução particular para um problema. 
Está em curso uma nova ordem ética e política que destaca todo indivíduo, como um nó na Rede, conectando-se com outras pessoas, numa comunicação computador a computador, empreendendo um novo processo ético, que considera a história de cada um, e os insere no campo da linguagem.

“A linguagem da qual se trata aqui, repitamos, não é o objeto que os lingüistas estudam, nem algum veículo neutro próprio para transmitir as  mensagens eficazmente.  Uma linguagem é a condição de possibilidade de um mundo, desdobra o campo de significado donde surgem os eventos, estende a grande placa imaginária sobre a qual os fatos se desenrolam e encadeiam.
 "Notem vocês que se eu tivesse dito: a linguagem é nosso instrumento de comunicação, teria colocado  a linguagem no corpo, como instrumento através do qual manejamos símbolos na comunicação. Reconheço também que a linguagem não se dá no corpo, mas sim no fluir em coordenações consensuais de conduta” (Maturana).

   
          A linguagem que permeia a democracia representativa está no corpo, mas a que representa o anseio por uma democracia participativa está no fluir da linguagem que interliga ponto a ponto as pessoas, de forma ubíqua.  Há, como na vida, um sentido teleológico na Rede, que de ponto a ponto incorpora novas variáveis, novas idéias, novas concepções de vida, fazendo surgir a linguagem resultante da idéia coletiva, e que se auto-coordena  de forma consensual. Há na Rede social uma auto-gestão que evidencia cada nó e que merece ser estudada cientificamente, pois não há um líder, uma vez que a liderança, de forma ubíqua, está na Rede. 


         Que partido está habilitado para esta representação? Que gestores? A coisa pública está em jogo. Há a exigência de uma nova ética e política no governo das coisas.


 MATURANA, Humberto. Emoções e Linguagem na Educação e na Política. Minas Gerais : Editora UFMG, 1998. 98 p (coleção Humanitas). 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Aristóteles, Platão e Hegel - O exercício das funções públicas

De acordo com Platão e Aristóteles (em torno do século IV a.C.), o ideal de política deveria partir de um modelo de governante ideal para o exercício de suas funções públicas, uma política prescritiva por indicar caminhos para distinguir entre o bom governo e a política corrompida. 

Decorre daí uma estreita ligação entre Ética e Política.

No entanto...a ordem democrática grega foi destruída na Guerra do Peloponeso, e Atenas foi derrotada.

As vaias recebidas antes do jogo pela Presidenta Dilma  nada mais são que consequência de todo um processo anterior, cuja tendência já deixava antever as consequências."Não é no seu fim que a coisa se esgota, mas em sua execução. O resultado nu é o cadáver que a tendência deixou atrás de si." (Hegel)

Realmente as vaias são um signo que representam a gota d'água. As vaias são um resultado - um cadáver - que a tendência deixa atrás de si. 

A tendência pode ser prevista e contida? Como todo processo histórico depende  de variáveis que não são isoladas, pelo contrário, se interpenetram e criam novas variáveis, formando  "um construto cognitivo" difícil de medir a trajetória!


sexta-feira, 31 de maio de 2013

Immanuel Kant e o Apriorismo Kantiano - Jerry Fodor / Humberto Maturana e Francisco Varela

Kant  (1724 - 1804) em sua filosofia do apriorismo afirmou que a experiencia  é importante na apendizagem pois ela nos dá o material do conhecimento e declarou que a razão processa estas informações porque a priori o ser humano possui no cérebro as estruturas próprias que permitem à razão processar as informações.

De forma análoga,  Jerry Fodor (1935 -) é um filósofo moderno, um dos expoentes da Filosofia da Mente - uma interface entre a Filosofia e a Ciência cognitiva. Jerry Fodor sistematizou sua Teoria contrapondo-a à Teoria da evolução das espécies de Darwin.

Segundo Fodor, o ser humano possui no cérebro o equipamento que alavanca a evolução da espécie humana, que semelhante a um computador recebe e processa as informações, aprendendo e atualizando todo o repertório de conhecimento - progressivamente - chegando a funções semelhantes a um sistema de  Inteligência Artificial.

Fodor trabalha com uma filosofia semelhante a de Kant, onde a mente é metaforicamente falando um sistema computacional modular, que vai se atualizando na medida do desenvolvimento da cognição humana. Um conceito semelhante foi criado pelos chilenos Humberto Maturana (1928 - ) e Francisco Varela (1946 - 2001) chamado Autopoiese ou autopoiesis. Designa a capacidade dos seres vivos de produzirem a si próprios.


São teorias que se interligam e que trazem novas visões e novas versões sobre a trajetória e saga do  ser humano em direção à inteligência e à razão.