O grupo é a matriz do indivíduo, porque é
a partir da socialização que o sujeito desenvolve a sua forma de pensar, num
amplo espectro de percepções, que permite ao ser humano ampliar seu ponto de
vista sobre as questões. É justamente por este motivo que a atenção do líder
tem que se voltar para o grupo, para perceber o que está sendo aprendido na
troca de conhecimentos, no diálogo, na conversa.
Se quisermos solucionar problemas temos
que voltar a nossa atenção para o grupo e captar como as pessoas se comportam
quando interagem. desta forma vamos perceber habilidades, limitações e
problemas que não perceberíamos se observássemos a pessoa individualmente.
Um bom líder volta-se para o grupo e
percebe o que não está sendo dito, capta os silêncios e estimula o diálogo - o
processo de socialização de experiências pode criar uma lente especial, para
dar sentido ao trabalho que está sendo realizado.
O espírito comum no grupo é obra de um
líder capaz de ouvir, de dar voz a todos e de fazer com que todos se expressem,
com confiança, sem receio de retaliações.
O Professor Paulo Freire fala, com muita propriedade, em
ciclo gnosiológico, retratando no ciclo do conhecimento um fenômeno, a
partir do qual o indivíduo enxerga o que antes não via. Podem ocorrer dois
cenários: o indivíduo enxergou e sabe que é melhor ficar quieto, para não se
indispor e se prejudicar ou o indivíduo enxerga e aprende com o grupo e
desenvolve melhor o seu trabalho. Um líder tem obrigação de perceber qual dos
dois cenários manifesta-se a partir de sua orientação pessoal. Nada acontece
por acaso - o líder tem que se comprometer com o que acontece a sua volta, tem que se comprometer e dar sentido ao trabalho de cada um que trabalha sob sua direção.
Michel Serres em seu livro “Filosofia Mestiça” descreve o
processo de aprendizado como a travessia de um grande rio no qual a
transformação vai ocorrendo nas descobertas e nos enfrentamentos da busca pela
outra margem. Quando nasce o espírito comum, o grupo se fortalece e cada um
recebe esta força. A questão aqui reside em saber: este espírito comum - ira, descaso, silêncio, medo, violência - surgiu
como resposta à exclusão, às injustiças? Ou se ele surgiu como resposta a um
esforço ético coletivo - diálogo, solidariedade, compreensão, bem comum - para viver o sentido de uma vida plena, de um trabalho repleto de significado?
O que impera no grupo: autoritarismo ou democracia?
As pessoas falam ou têm medo? As pessoas se expressam e contribuem com
confiança? Liderança e democracia estão inextricavelmente conectados,
provavelmente porque tanto um quanto o outro necessita do diálogo para
crescer.
Um líder autoritário enfraquece o Eu individual e o
Espirito comum tem sua força moral fragilizada - neste caso o coletivo é pobre
e volta-se para interesses pessoais - o crescimento moral não acontece e
como retratou o filósofo Tucídides ao escrever sobre a Guerra do Peloponeso - o bem comum fracassa imperceptivelmente.
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