A ética não pode ser uma ilha que me afaste do outro, devido a uma assepsia moral. Daí é que a ética se deslocando da cultura assume uma forma mais fluida. É o que Morin chama de auto-ética, que se funda apenas nela mesma, na fé no amor, na solidariedade, na compaixão, no perdão e na redenção. Mas Morin fala exclusivamente na redenção do indivíduo, e diz que não mais acredita em redenção coletiva.
Diferente de Morin, minha auto-ética se funda na crença da redenção coletiva, pois não acredito em redenção individual sem a presença imperceptível de um risoma coletivo, que marca no ser individual "o sou porque somos".
Abraço - como Morin - a ética da compreensão, mas parto de uma contradição individual / coletiva que me consome e lembro de duas antigas histórias:
a) A dos monges que seguiram por um caminho individual para chegar ao Paraíso. Caminharam muito e cansados da jornada fatigante chegaram às portas onde querubins se postavam como guardiões e diziam a todos que chegavam: "Vieste sozinho? Volta e traz contigo o teu povo.
b) A outra história é uma antiga parábola que fala de um assassino que estava sendo julgado pelos seus crimes e do trabalho de dois anjos de D'us, que a mando do Rei dos reis tinham como missão - cada um deles - acusar e defender o homem. E ao final do julgamento, o lado para o qual pendesse a balança mostraria o resultado de todo o processo.
Iniciado o juri, o anjo acusador colocou na balança todos os crimes hediondos deste homem e a balança pendeu até o chão. O anjo defensor então, colocou na balança uma ação de salvamento que o assassino havia empreendido, ele colocou a moça que o assassino salvou num dia, quando a carruagem dela despencou no abismo, devido à grande chuva. Com este ato do anjo defensor, a balança pouco se moveu. O anjo então - em uma nova estratégia de defesa - colocou na balança, a carruagem e os cavalos que a puxavam e a balança cedeu bastante, mas guardava ainda muita diferença. Então o anjo da defesa numa atitude final, colocou no prato da balança a lama da estrada por onde homem passou e neste momento a balança se equilibrou. A mais alta Espiritualidade então, deu o perdão ao espírito do homem assassino, porque percebeu no ser daquele homem a marca profunda do "sou porque somos' - e seria preciso então, condenar uma sociedade inteira.
Na dialógica entre razão e espírito; entre ceticismo e fé, minha auto-ética me leva a afirmar que só uma auto-ética que traz o outro em sua lógica, uma ética que perceba a sociedade no indivíduo e o indivíduo em sociedade, só esta ética pode fundar as ações para uma condenação / redenção individual e coletiva.
(livro: Edgar Morin- Meus Demônios - Bertrand Russel, 2010).
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